sábado, 29 de novembro de 2008

...Only waiting...


É tarde.
nas horas, nas coisas que era suposto querer fazer.
é tarde no que não quero fazer mas arrependo de pensar no assunto.
a meio caminho de um gesto falso somente para aplacar a presente emoção(solidão) ausência de açúcar no sangue...

dou meia volta daquele sitio frio onde me lembrei de ti.
esboço um melancólico sorriso daquele nosso café que se transformou num banco...
avanço e revejo o que não desejo fazer de ti... memória do teu cabelo ajeitado sobre a orelha, do jeito patusco com que coçavas a ponta do nariz com o indicador, nada disso.

tenho saudades de mim antes, mesmo contigo.

queria amar-te, e tu ser amada.
queria-te como namorada e tu um namorado

calma que não vou desabafar tudo de uma vez...
mas aproveito e confesso que os meus dedos exasperam pelo toque da fronteira das tuas calças nas tuas ancas...

não necessariamente as tuas... é apenas uma ideia( conceito, gesto) interessante.

era sempre tão cedo aquele teu beijo de despedida, apressado.
não trás alivio essas coisas... as recordações.



para além de rasgarem o presente, o empurrarem... ou pior... segurando-o pela mão abrirem deste os seus dedos

em silêncio.

este passado é silêncio.

o calor do teu rosto nos meus lábios - não da tua boca

o teu polegar na palma da minha mão

qualquer coisa boa das poucas que me deixaste de memória antes de te calares mulher

(podias ter ao menos deixado mais qualquer coisa de interessante, de válido e cativante de se lembrar)

antes de não me conseguires olhar nos olhos e mirrada, envergonhada, traíres as tuas palavras comigo
sentadas ao meu lado no passeio



passou-se Fevereiro, Abril, até mesmo se passou o mês de Agosto, caraças... estamos em Novembro e dei por mim na mesma rua mas tudo cambiou.
há entre vós... ambas as duas e aqui o bonitão uma invisível barreira...

Mais do que desgosto ( que há muito não há)
mais do que desejo ( oh... pelamordedeus)
mais do que a vontade de dizer o que ficou por ser dito ( que já perdi também com o tempo)

há um vazio que devia ser diferente.
devia ser bom mas...
rebentaram com a memória que até seria digna de se ter de alguém de se encostou no meu ombro e deixei chegar bem perto




mas agora para vosso azar, para a memória que não tenho vossa, é o amanha que me guia, é o passo seguinte que me arrebata e leva a mexer, a sorrir e a viver
já não me dou por satisfeito, desfeito em imagens arrepiantes de quando me salpicavam, me encharcavam, me beijavam - por vezes bem, outras nem tanto
e não há mais nada para ver agora...
foi devagar mas ganhou velocidade, balanço... e já só paro no barreiro
ficou um nada senão desgosto
de não ter visto o jogo do Porto em casa em vez de teres caprichado a minha companhia
de não ter tido aquele encontro galante com a moça dos caracóis e ter desejado ser convosco ficar, mais do que aqueles cinco minutos que demorei a compreender que não eram parte do meu caminho


ajeito o casaco, encolhendo-me do vento frio.
respiro fundo e avanço, devagar mas confiante
ainda é cedo.

(pelo menos para mim)



Nota - pela primeira vez sobre uma ex namorada (neste caso duas) falei a sério, respeitosamente e com carinho (tentei!), misturei um pouco de ambas no mesmo texto para ter também alguma coisa para delas dizer, pois era meu desejo assinalar o facto de em entre-campos, onde era o lisbonne café... agora ser um banco...

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Standing Still

Inacção.

noção sempre sempre em relação a algo que se move
todos parados, imóveis...é algo que todos fazemos juntos, se um se mover... todos os outros estão quietos de imediato e quem se moveu dono de uma qualquer acção.


dai a expressão - estava a fazer a fotossíntese...

desculpa para não me mover.

não ter que o fazer, não ter que dar aquele passo, e aturar, chatear, apanhar, irritar qualquer coisa em mim ou em meu redor.

é bom saltar de pés para a água e deixarmos esta nos embalar
abrir os olhos e sentirmos qualquer coisa fisica ao nosso redor que não nada... sentirmos algo frio ou quente, sentirmos que estamos ali, sem nos movermos e é o que nos rodeia que nos move...
e nos leva a fazer qualquer coisa.

não fazermos algo e recearmos o seu regresso, como espirrar deitados na cama de barriga para cima e lembrar-mo-nos disso nos milésimos seguintes ao espirro

(por demais nojento, mas sempre engraçado)

inversamente, posso ter um quadro parado... um fundo a negro, uma ligeira ideia sobre esse fundo e deixa-lo assim os anos e tempo que me aprouver...
estou a acabar de o pintar... estou a fazer algo na inacção.

(sim... estou a ser preguiçoso)

até ao dia que acordo e ainda é noite, mas um cinza azulado ténue de manhã, não o noite denso e alinhavado de dourado da noite

(horrível encontrar um dia perdido ao acordar de noite...)

acordar nesse azul acinzentado em crescendo para tudo ser luz em meu redor, e sair de casa tão cedo que tudo à volta é espaço, vazio de homens, cães, coisas a se moverem...

é apenas eu, eu a mover-me contra o mundo...

mesmo a saber que no fim talvez sinta que não vai valer a pena, podia ter ficado na cama mais uns cinco minuto
ser um gajo que se move, faz coisas, diz coisas, irrita coisas, e coisas faz errado.

dar aquela corrida enregelado e sente o corpo sorrir, mais uns metros... mais um minuto, talvez só até aquela árvore... e depois dela aquele poste e depois outra coisa qualquer, e outra, tudo sem parar de correr, sempre sem parar - é importante nunca parar, não vá o corpo achar excelente a ideia- e correr até não haver mais chão para onde o fazer, e ser o mundo que se verga derrotado

é o mundo que ficou quieto, porque por mim...

eu sei que a terra é redonda...

mas por maiores que sejam os continentes podemos sempre parar (ou voltar para trás) quando chegarmos ao oceano