domingo, 2 de março de 2008

A dona do meu 18...

atraves do vidro, meio perdida no reflexo do sol mas suficientemente presente para lhe captar o olhar, a atenção, ao ponto de apenas por acaso não ter tropeçado nos degraus.
confirmou o numero da porta e entrou.
sentou-se o mais discreto possivel, primeira aula, turma nova, queria primeiro estudar o espaço, as facções sociais em confronto, quem era quem antes de tomar posição ou opinar sobre o que quer que fosse.
lembrou-se do Boss - you ain't a beauty but hey... you're alright, num pensamento sobre a rapariga que se sentou ao seu lado. sorriu, afastou da mesa desta os seus pertences libertando-lhe o espaço para que se sentasse ao seu lado.
subitamente, na penumbra da sala durante a projecção da construção de um museu em berlim, demasiado conceptual e teórico na sua opinião, quando vagueava o olhar pela sala em seu redor fixou-se num 18.
gostava do numero sem saber bem o porque de gostar desse numero.
era aniversário da avó a 18, assim como o da sua primeira namorada, mas porquê gostar desse numero? não tinha uma certeza ideia que o justificasse.
fixara a atenção apenas por segundos, instantes, e notou que dentro do casaco, acima deste lhe devolviam a atenção.
era a mesma rapariga que por pouco antes quase patinara antes de entrar na sala -teria sido épica a entrada
Morena de olhos azuis, cabelo apanhado, encontrou-o e fixou-o, sorria com o rosto todo, sem ser uma pornografia dentaria, um sorriso simples mas sincero.
atrapalhou-se ou atrofiou-se... ficou encavacado e desviou o olhar.
porcaria do 18, agora a rapariga iria ficar com a ideia que estava a procurar nela algo mais que um numero... bela imagem que estava a dar...
tentou controlar sem sucesso a curiosidade e olhou novamente para ela...
viu-a esquiva mas o suficiente para ela perceber que olhava de novo...
"sinceramente... parece que tas de novo na primária..."
lembrou-se da àgata, a primeira rapariga por quem se apaixonou no primeiro dia de aulas da sua vida... a primeira rapariga real por quem se apaixonou, afinal a namorada do He-man não conta nesta equação.
a àgata também tinha olhos azuis...
concentrou-se no museu em berlim, pouco práctico, raio de museu mais preocupado em dizer - olhem para mim sou uma cagadela de um arquitecto que não percebeu que museu é para servir a sua função - ser um museu- e não salas e salas e espaços ninjas para sair numa revista escrita por outros arquitectos ninjas a justificarem as cenas ninja que fazem ...


Como se tudo que o envolvia fosse uma visão, sentado ao sol de fim de tarde num dia porreiro de primavera, daqueles em que o vento não chateia mas refresca, não está sol demais mas aquece em lume brando, como uma namorada sem cordas vocais... era perfeito.
aumentou o volume da música para ouvir melhor o trabalho do piano de fundo sob a voz do Boss, thunder road...
A dona do 18 saiu da sala, via-a pela primeira vez de corpo inteiro, como se esta flutuasse no meio da multidão, viu-a soltar o cabelo sobre os ombros "let the wind blow back your
hair", fechar o casaco e ajeita-lo sobre o corpo.
antes que se virasse na sua direcção desviou dela o olhar, fixando-o em dois pombos que não disfarçavam o consumo exagerado de ecstazy ao som de trance psicadélico no seu andar pastilhado.
Passou diante dele, passo calmo sem pressas assustando os pombos. parou, virou-se na sua direcção e avançou.
sentou-se diante dele, na pedra ao sol.
-olá... - disse aguardando que ele tirasse os phones dos ouvidos - és novo na turma?
o coração batia veloz dentro do peito, estranhou a presença mesmo que intimamente a desejasse, mesmo que fosse bom demais para ser verdade, e caramba... acabara de conhecer visualmente a rapariga, não era motivo para estar assim surpreso, ancioso e... desejoso, desejoso como quem hà muito deseja uma coisa boa, como quem espera que lhe digam que vai ficar tudo bem " Don't turn me home again I just can't face myself alone again", e sentir esse desejo por alguém assim recente no seu mundo...
não percebia, não sabia porquê...
como se esperasse por um sonho neste mundo onde somos sombras e trevas segundo o Boss, mas somos desejo de um escape, que mesmo que não ilumine... oriente e guie... "Waste your summer prayin' in vain for a savior to ride from these streets"
-olá... sim sou... mudei de turma ontem...
- Joana... e tu?
apresentou-se, sorriu-lhe. sentiu vontade estremecendo com a noção do insólito e precipitado que o invadia... a vontade de a beijar, de a puxar para si e saborea-la, beija-la havidamente, percorrer e comprimir o corpo dela contra o seu... quiça possui-la ali mesmo...
acima de tudo te-la nos braços, como se isso tornar-se real qualquer coisa estúpida que estava a sentir por ela... pela joana segundo o que ela dizia - não lhe pediu BI ou documento comprovativo.
ela questionou-o sobre banalidades, estudando-o, quando as respostas seguiam as perguntas com fluidez atacou o que realmente lhe queria perguntar:
- porquê que sorrias para mim na sala? reparei que estavas a olhar para mim e estavas a sorrir... mas não era... sei lá... estavas a sorrir de uma maneira... querida... não sei...
- querida? maneira querida? eu? sorrir?
caraças, tinha sorrido? tinha tido alguma expressão estupida quando reparou nela na sala?
- não sei... tavas com uma expressão... oh... esquece...
pensou em responder - gazes filha, tava com gazes... - mas sentiu ser demasiado estupida a real explicação... o 18...
- não me lembro de tar a sorrir... mas sim, olhei para ti...
- e porquê?
- porquê que olhava para ti? pelo teu casaco... via-se que era malha da boa...
chamou-o estupido,sorriu... e como sorria... quis fugir dali, enfiar-se num sitio qualquer abraçando-se em posição fetal de modo a sentir-se menos... envergonhado, menos numa situação em que voltava a estragar tudo "Don't run back inside, darlin' you know just what I'm here for So you're scared and you're thinkin' that maybe we ain't that
young anymore", estava farto de fazer asneiras em pequenas coisas... principalmente de estar dominado com a presença dela...
sentiu os dedos dela na sua mão, levantou-se e puxou-o atras de si
- anda, vamos beber um café... eu deixo que tu pagues o meu...
generosa... ao menos era sincera... seguiu-a, com a proximidade cheirou-a, absorveu-a e como lhe cheirava bem... estranhamente não se lembrou de tirar da dela a sua mão e esta... não o afastou até que se tornou demasiado estranho estarem de mão dada " Climb in back heaven's waitin' down on the tracks, Oh, oh come take my hand"
sentaram-se, conversaram e esqueceram-se (ou não) de voltarem para a aula, como se retomassem uma conversa antiga e lhes fosse natural estarem um com o outro.
fazia-a rir, quer pelo prazer que tinha em ve-la esbugalhar os olhos e mais uma vez... presentea-lo com o sorriso.
subitamente, fitou-o e perguntou:
- conta-me algo... estranho de ti
- como?
- algo que não faça sentido de ti que tenhas...
- tu primeiro... para ver se percebo que raio de pergunta é essa...
- bem... - corou, rodeando o sorriso com um suave avermelhado muito muito, incrivelmente e magestosamente sensual avermelhar - tenho uma fixação com o numero 18... não sei porquê...



"It's a town full of losers, And I'm pullin' outta here to win"









Todas as frases que cito são parte da música(magnifica) Thunder Road de Bruce Springsteen a quem me refiro como Boss (piada ribeirinha que hà muito partilho com sra dona Ana Vieira... El Patron), e espero que quando ela subitamente o fixa para o dialogo final, estejam a ouvir a thunder road... minuto 4...
quase tão sublime como em pleno estádio de Alvalade após o golo do jankauskas a claque do benfica cantar (outra vez... outra vez... foi a festa co ... outra vez...)
ou para ser justo... a claque do porto a cantar (Campeões... Campeões...) mas isso nós cantamos sempre em todo lado e em todos os anos... já perde a piada...



a Joana da História é real e é dona de um casaco com um 18...
(e tem um sorriso... eh pa... )

Um comentário:

Deizz disse...

ehehe El Patron ao pode!!! Patron 4ever!! LOL
passei só para deixar o beijinho do costume. para te provar k os teus textos chegam ao mundo da lua (onde eu vivo) ehehh