Ele senta-se e fica em silêncio, passa as mãos pelo cabelo e sorri em esforço.
- Não correu bem.
- O que esperavas?
- Sinceramente? Não sei.
- Ao menos...
- Sim, mas não é esse o complicado.
Acenou por duas cervejas.
- Eu passei demasiado tempo preso no conceito, é bom salivar, divagar, imaginar tudo o que queres não achas?
- Sempre.
- Tentei não lhe dar um rosto fixo, tentei para não ser apenas uma das duas. Ter esta ideia de mulher, este conceito como uma mescla delas... E ter tido o acaso de uma delas se tornar minha. Eu nunca me iludi com ela, nunca preenchi todo o conceito nela, nem sequer o procurei, era injusto.
- Muito, achas que tiveste azar agora?
- De os deuses me tropeçarem na outra? Muito.
- Podias ter ficado quieto.
- Podia, mas como não ir atrás? Como não tentar encontrar em carne real o outro lado dos anos que passei... Eu... Eu fiz das duas minhas, ao mesmo tempo e nunca fiquei tão só.
- Só?
- Estava com uma a pensar na ideia que podia ser a outra mas era sincero o amor que lhe tinha e recebia. Dei-me também à outra e eu passei a ser uma mentira, duas melhor dizendo, uma para cada.
- E passou a ser nada?
- Sim, nada, só o vazio de não lhes poder... Não poder falar e eu no meio, atracado em porto nenhum.
- E agora?
- Conto os dias até...
- Até?
- Não sei, mas tenho que contar o tempo.
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