Algumas vezes era demais, muitas outras vezes igual.
algumas vezes dentro de água, olhos abertos...
algumas vezes era a melodia envolvente, mais que a batida...
era sempre estranho, aguardando algo que não vem.
era mais que este vazio cheio de coisas que não consigo totalmente compreender - ou não as quero.
opções minhas que me destroçam, que me magoam quando não as quero tomar, e sei que tenho...
memórias ou sonhos horríveis que sempre se lembram de me acordar, que me gritam aos ouvidos, que esmurram nos dentes sempre com aquele sorriso camarada de quem nos vai cravar o pequeno almoço.
como sempre...
dá vontade de agarrar naquela pessoa pela mão, rodopiar a sua fantástica silhueta em meu redor até não haver música que nos acompanhe, não haver motivo para ali dançarmos e ser apenas...
estarmos a olhar para o céu.
para sempre.
queria então eu ser eu nesse momento... ser esse momento totalmente - como a água envolvente...
é difícil envelhecer sem um rumo, sem porto azul de destino...
e eu...
à procura desse meu porto azul.
anda dançar com estilo... presença e força, volta para trás comigo no tempo, solta o teu cabelo e sorri
numa praia de areia fina, ou mesmo da grossa que nos faz cocegas nos pés...
onde o mar quebra mais forte e nos salpicamos ainda distantes...
nós ali... numa fotografia a preto e branco...
para sempre.
seriamos a tal melodia... música flutuante, no teu cheiro ao beijar o teu pescoço... ao morder o teu pescoço.
mas é coisa que não me pertence.
essa dança feliz, essa frase de quem diz que o mundo pode esperar... afinal, ainda estamos a olhar para o céu.
pertence-me os meus "para sempre" sinceros, e os falsos... em que acreditei.
onde me espalhei tosco.
já não é bom aquilo que foi, contigo, comigo, connosco e com os outros, com todos nós e a pestana.
já perdeu o gás a bebida, e sinceramente... se for para morrer como esta, dá aquele desanimo de pedir o mesmo outra vez.
Já não tenho tantas camisas engomadas no armário como antes...
já não tenho a paciência de me barbear...
já nem me recordo da letra daquela música catita que inventamos, aquela que terminava num teu solo esganiçado de voz...
já não me lembro sequer do teu nome mulher.
mas sei que dancei com estilo.... triunfante.
vamos morrer jovens ou viver para sempre?
será que a música é somente para os homens tristes? tocada por um homem louco para quem se enganou na sala e ainda não percebeu onde é a saída...
porquê que não conseguimos estar nesses momentos mágicos e ficamos tão presos naqueles outros que nos controlam... mesmo sendo no tempo distantes?
sei que gosto de "para sempre", como se fosse um selo de qualidade no produto, um sublinhar de empenhamento, mesmo que acabe no seguinte instante... ter sido verdadeiro na intenção.
sei que dancei com estilo... triunfante, e os meus para sempre era para sempre mesmo.
nem que fosse por uns simpáticos três minutos.
fui fonte de terno calor, daquele envolvente no pescoço, seguido de um beijo ternurento que diz que tudo vai ficar bem... damos a volta ao marcador na segunda parte...
Algumas vezes era demais, muitas outras vezes igual.
sempre o mesmo desfecho.
algumas vezes dentro de água, olhos abertos...
ou eu sozinho num plano paralelo, e o mundo todo distante.
algumas vezes era a melodia envolvente, mais que a batida...
que me raptava para o fundo da mente, onde ai... agora é difícil encontrar aquela tua deliciosa imagem...
como se fosses diamantes ao sol... e os diamantes... são para sempre.
bom era seres tu ao sol para sempre.
era sempre estranho, aguardando algo que não vem, como quem aguarda e não te vê passar.
(o que até teria uma sórdida, cruel e irónica piada)
ah... para sempre...
Um comentário:
Uma foto linda.. e nostálgica, como o texto... :)
Certas frases e palavras soltas que te apanham desprevenido e mostram o que de mais profundo tens. São talvez os inconvinientes, ou não, de escrever aqui. Lê-se e relê-se, e juntando peças descobre-se um pouco mais sobre essa pessoa que escreve que és tu, perdido no meio dessas múltiplas personalidades e personagens que tens. Mas no fundo do fundo há sempre um pouco de ti em todas, e essa é a parte mais bonita da aventura de te ler: descobrir onde estás.
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