- o texto que se segue encontrei perdido nas catacumbas do blog e foi escrito lá para os lado de Dezembro -
(quando não havia blog)
Adorava após um dia de surf, uma boa corrida de manhã ou umas horinhas no ginásio, perder-se debaixo do chuveiro.
Fechar os olhos e deixar a água acordar-lhe a pele sobre os cansados músculos do corpo com o tempo a passar... levando consigo o cansaço... o mundo que carregava sobre os ombros, qualquer fosse ela uma grande ou insignificante preocupação... gradualmente, gota a gota ... Limpava-lhe a mente e o espírito.
Mas hoje apetecia-lhe algo diferente. Não lhe apetecia correr, não lhe apetecia gingar com ritmo diante do saco de areia e esmurrar o infeliz durante uma hora...
Apetecia-lhe nadar mas não estava com a paciência de lutar com o fato térmico...
Enfiou a touca no saco, os calções e a toalha.
Entrou no carro ainda era de noite, coisa das 07h, deslizou pelo eixo norte-sul ainda vazio até Alcântara e só depois de estacionar nas piscinas do orgulho da tapadinha (que isto de ser sócio tem as suas regalias e há que aproveitar) é que reparou que não tinha ligado o rádio.
Estranho.
Equipou-se.
Lutou com a touca e pensou no que seria touca e fato térmico e o André e pessoas a ver...
Chegou à piscina, descalçou-se e suspirou.
Lembrou-se de estar nos Pirenéus com os pés amarrados à prancha a ritmar a respiração antes de dar aquele saltinho ridículo e arrepender-se todos os centímetros do declive até ao fim da pista de ter escolhido uma pista vermelha...
Com apenas dois dias de prática após a estreia na neve...
Olhou para a água e estaria sozinho não fosse um chapinhar relativamente gracioso e elegante no outro extremo da piscina.
Pelo corpo e mancha do fato de banho preto debaixo de água concluiu ser uma mulher.
Pensou- mas quem é que acorda e vem para a piscina a esta hora??? gajas...
( e depois do gajas lembrou-se que também estava ali àquela hora...)
Susteve a respiração e concentrou-se em não gritar como a princesa que era sempre que tinha que entrar na água.
Desceu dois degraus e voltou para cima.
Ia ser tão patético...
Como sempre, para evitar o enxovalho público e manter aquela imagem, a reputação de Tiranossauro sexual...
Antes de pensar no assunto atiro-se de cabeça para a piscina e resolveu o problema feito macho.
(e gritou como uma princesa dentro de água, mas não se ouviu)
Voltou à superfície, ajeitou a touca e mergulhou.
Fez uns metros sem rumo debaixo de água, rodou o corpo e impulsionou-se para uma qualquer direcção sem sentido.
Subiu e mergulhou outra vez.
Olhou à sua volta e decidiu-se a fazer uma piscina.
Não estava preocupado com a técnica, apenas em contrariar o seu mais primário instinto de mar... olhar sempre para a água.
O que o levava a estar sempre... SEMPRE com a cabeça fora de água a olhar em frente.
Parecia um labrador desengonçado...
Chegou ao fim da pista., Virou-se e reparou que rapariga esfregava os olhos, limpando-os da água e olhava na sua direcção.
Empurrou a parede com os pés e deslizou para debaixo de água.
Abriu os braços e remou o que conseguiu até ficar sem fôlego, subiu...
- Olá André...
Reconheceu-a. Viu-a suavemente deslizar e reduzir os metros que os separavam no silêncio do vazio à sua volta.
O sol entrava pelas ripas da fachada de vidro da piscina ainda com uns tons de vermelho ao longe no céu mas dourado no ondular da água...
Procurou o chão, encontrou-se com pé um pouco abaixo do nível dos seus ombros.
- Eu não tenho pé André...
Sentiu as mãos dela travarem o balanço no seu peito.
Sentiu-a do seu peito deslizar para os seus ombros e dai para o seu pescoço.
Ia fazer conversa da treta, perguntar-lhe o que fazia ali sendo óbvio que estava a nadar, ia sublinhar a piada da coincidência ou qualquer outra coisa que lhe ocorresse quando ela se chegou bem perto...
Tocou-lhe no nariz com a ponta do seu.
Fugiu com o nariz para um lado, depois para o outro...
Levou quase como reflexo as mãos à cintura dela, agarrando-a.
Ela encaixou como reflexo as pernas no corpo dele, elevando-se arqueando as costas...
- Está quieta...
- Nem um bom dia? nem um olá? preferes que me afogue...
Apertou-o num abraço demorado.
Girou com ela, suave.
Saltou sem a largar e mergulharam juntos.
- Os teus calções são tão panisgas...
- O teu fato de banho... pediste emprestado à tua avó?
- Tu tens é inveja da minha touca com o Símbolo do atlético, admite...
- Esqueceste-te das braçadeiras ou ficaste com vergonha?
- Tu é que pareces uma galinha dentro de água... isto aqui não tem ondas! não precisas de estar sempre com a cabeça fora de água meu granda burro...
- São instintos mulher...
Beijou-o.
- Isso foi... porquê?
- Foi instinto... anda, vamos tomar o pequeno almoço que já tou a ficar tipo passa...
- E a tua avó precisa do fato de...
- Já fizeste essa piada...
Afastou-se e remou sem virar costas para longe dele.
Não a deixou ganhar distância, rápido firme segurou-a pelo pé, não a deixando partir.
- Vais-me dizer que isso foi instinto André? pânico de me veres ir embora?
Puxou-a de volta para perto de si, direccionado-lhe a perna para o lado, levando-a a novamente se encaixar à sua volta.
- Nem instinto nem pânico..
Beijou-a, beijaram-se.
- Admite, é a touca que te põe quente...
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