Reconheceu-a, sorriu e mudou de direcção para a cumprimentar.
Ela levantou-lhe a mão para esperar, sentou-se no muro e poisou a mão ao seu lado, para que ele se sentasse ali.
- Fica aqui um pouco comigo, já falamos.
- Nem um beijo primeiro?
- Nem um beijo primeiro.
Sentou-se, enroscou o seu braço no dele.
- Vamos ficar aqui um bocado ok? deixar o tempo passar enquanto está sol...
- Como quiseres...
Suspirou, encostou a cabeça no ombro dele.
- Não te parece que o passado mesmo distante está às vezes perto demais?
- Se calhar o tempo passa é depressa, nem temos tempo de mudar de música, mas até que gosto de recordações.
- Eu odeio, odeio quando são apenas isso.
- Nunca são apenas isso... acho eu... deixa-me pensar...
- Força, não tenho pressa, e está-me a saber bem o sol e o teu ombro.
- Aqui por estes lados, saboreia-se o teu cheiro... aviva-me memórias e recordações... boas, dai se conclui que as recordaç...
- Não, ainda não tens razão, pensa lá mais um bocadinho na coisa e depois dá-me um feeback em condições.
Fez-lhe uma festa no rosto, Beijou-a sobre o cabelo, concentrou-se num cacilheiro que se arrastava rio fora para a margem sul.
Desencostou-se dele, bateu com a palma das mãos nas pernas
- Então? a conclusão chegaste?
- Ser crescido não tem graça.
- Morreram-te os sonhos todos... e não ficaste comigo... é triste... ao menos tens recordações para...
- Ah... Ah... não. Lá no fundo, as recordações que tenho mais ou menos aqui contigo, não há muito tempo atrás
- Cinco anos é muito tempo?
- Não, mas dizia...
- Dizias...
- Estava dizendo... essas mesmas recordações ainda tão perto, ainda são parte do meu Eu actual, ainda te qualificam como uma identidade continua.
- Awww isso é uma declaração? podias ter sido ligeiramente mais claro... digo eu.
- Bitch, u its fine?
- Sabes tão bem como me por quente... e agora?
- Depende, onde ias?
- À papelaria do CCB comprar umas canetas, depois ia beber um chá para a esplanada, porquê? o que estás tu fazendo aqui em Belém homem?
- Vim deixar uns livros a um amigo, tomamos café e agora ia-me embora...
- Que livros?
- Técnicos, um thriller entusiasmante sobre termos técnicos e o Gatsby, para o gajo ler antes de ver o filme.
- E agora?
- Agora? como nas imortais palavras de Van Morrison... "... all you gotta do is ring the bell... and stounuiwnrw oh uuuiweruniyw... I saw the ridiniubqwribysbfibwwogubau ooohh oohh Ballerina..."
- Boa escolha!
Levantou-se do muro, colocou-se à frente dela, sorriu.
Ela colocou os braços nos ombros e esperou que lhe segurasse a cintura.
Levantou-a, segurando-a no ar...
Deixou-a tocar suave no chão, mas não a largou.
- Aviso: se fizeres o que acho que vais fazer a seguir... há consequências, espero bem que tenhas...
Beijou-a.
- Eu sei.
Beijou-o
- Estás tão fodido comigo
- Eu sei.
Nota - Traduzindo do Van Morrison para o inglês:
All you gotta do
Is ring a bell
Step right up, step right up
And step right up
Ballerina
Crowd will catch you
Fly it, sigh it, try it
Well, I may be wrong
But something deep in my heart tells me Im right and I dont think so
You know I saw the writing on the wall
When you came up to me
Child, you were heading for a fall
But if it gets to you
And you feel like you just cant go on
All you gotta do
Is ring a bell
Step right up, and step right up
And step right up..
...Just like a ballerina
Um comentário:
Se o tipo me tivesse apresentado uma narrativa deste estilo eu enviava logo "beijinhuuus" múltiplos em vez de o condenar ao silêncio
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