(faxavor de colocar a tocar o vídeo ao fim do texto aquando da leitura do mesmo)
O plano era simples - entregar-se à bebida.
Tacteava os dedos sobre a mesa no silêncio de não ter mais ninguém à sua volta para torturar.
Uma sala cinza com o fumo onde dançavam ao centro um ritmo de contrabaixo vibrante e rápido, um trompete meio selvagem perdia-se em devaneios rodeando uma voz de mulher meio rouca que fazia todo o sentido a rematar o conjunto.
Sentia o cabelo a ficar branco enquanto vasculhava com o olhar pelas pessoas na sala à sua volta sem mexer a cabeça, apenas os olhos.
Bateu com o maço sobre o tampo uma, duas vezes e acendeu um cigarro.
Do outro lado da sala, sozinha numa mesa encontrou-a, foi capturado ao passar o olhar. Parou primeiro no ombro, subiu-lhe para o rosto e ficou-se por ali, fitou-a vestida de vermelho por uns instantes até que ela o encontrou.
Ela retribuiu-lhe a atenção e acrescentou-lhe um sorriso, acenou-lhe a cadeira vazia à sua frente na mesa onde estava em convite que ele acedeu.
Atravessou a sala contornando a pista de dança confiante e seguro, desatento diria que era a reencarnação do Paul Newman que avançava de fato cinza e gravata, alguém mais atento diria que puxava mais ao Macqueen.
Ironia do destino, ele era mesmo fã era do Bogard, mas isso eram detalhes.
Sentou-se, ela sorriu.
- Agradeço, não sei se da cor do vestido, se da cadeira vazia, vocês homens habituaram-se a acreditar que é uma bênção interromperem-me os pensamentos com gracejos, como se não fosse minha opção estar aqui sozinha. E é tão cansativo...dá-me lume?
Inclinou-se, deixando-a inspirar.
Ela agradeceu e reclinou-se na cadeira, apoiando o cotovelo sobre a mesa e sorriu.
- O que o trás aqui hoje? não me recordo de o ver por cá.
- Respondo-lhe que é a música mas mentiria, pelo menos parcialmente.
- Afogar fantasmas?
- Entreter os fantasmas, afinal, é vinho e não cerveja - acenou-lhe com o copo.
- Boa escolha, curiosa... pergunto-lhe, se fosse whiskey?
- Estaria perdido no Bounce da pista.
- Vou ver se não me esqueço de lhe mudar a bebida... engraçado, convidei-lhe para encaixar-mos o silêncio na mesma mesa e dissuadir corajosos que me dão cabo da paciência e no entanto ainda não me calei e... - inclinou-se sobre a mesa - parece-me que enciumei as duas senhoras que estavam naquela mesa ali atrás, diga-me, qual é o seu segredo?
- Quer que conte e lhe diga quantos homens nesta sala prendidos no intervalo do tecido da racha do seu vestido?
- Não me responde à pergunta que lhe fiz... mas pode ser um começo, como acha que isto termina?
- Parece-me óbvio.
- Verbalize, gosto de palavras e depois preencher o resto por mim.
- Acaba consigo a pedir-me lume novamente mas já sem esse vestido... e não daqui a muito tempo, afinal... já estão no segundo encore.
Ela sorriu, acenou e pediu a conta.
-
Para dar ambiente à coisa
Um comentário:
ah New Orleans
Amei, tudo, tudo, tudo.
Consegui visualizar tudo, mas apenas depois de colocar a música.
Que coisa mais perfeita :)
Lovely
Postar um comentário