segunda-feira, 21 de abril de 2008

En la noche

... e após tanto tempo ausente, afinal como diria o Pauleta sobre queijo- a vida não é só bola... decidi-me dedicar mais às fatias

- pausa para reflexão sobre a frase do Ciclone dos Açores -

Começo... ou recomeço porque já tenho umas frases acima com uma referência futebolistica - LISANDRO LOPES... Lisandro Lopes... Lisandro Lopes...


e pronto.


Subiu para o palanque sobre o canal central. à sua esquerda a ponte... imagem real de um quadro, imagem imortal de Veneza. Estava a ganhar com avanço, sozinho no canal, no topo do seu posto, um vento forte e frio mas de bom humor invadia-o.
sabia-lhe tão bem... o estar ali sozinho, num instante quiçá magico, de certeza somente seu.
Trouxe consigo esse instante e acima de tudo esse de Veneza.


O vazio majestoso entre as margens arrepiavam-no, principalmente sublinhado com o facto de ter vertigens.
a camisola azul estava húmida, empapada com a água que flutuava das cataratas pelo ar.
fora importante a viagem, o fugir sozinho na South America Tour 2006 à procura... de algo.

Também não interessava o que procurava, nem se o ia encontrar... quando nos procurarmos a nós mesmo é acima de tudo tropeçarmos em algo que nos diga - sócio... telemovel...
É uma cruzada por um curto instante que tudo muda, pelo desarme do Lisandro no meio campo do porto após um Sprint de 50 metros, é o instante em que fazemos um acordo de paz a solo, tréguas com a mente onde nos perdemos em labirintos infligidos ou por mazoquismo ou por mágoa, ou por estupidez.
Nesse instante, em que não receou o tamanho, a altura e a sensação de pequenes diante das cataratas, aproximou-se do abismo, determinado.
Estendeu a mão para o vazio, sentido a água flutuar diante de si... densa...
Abriu os olhos, abriu e nesse instante pelo céu nublado o sol se impos, rasgando, iluminando as gotas que lhe envolviam a mão... nesse instante tocou no arco iris que se desenhou em seu redor...
foi imperador nesse instante, César, Napoleão, Lucho" el comandante"... foi grande... Foi Prometeu com o fogo dos deuses, foi o sorriso entre o cabelo louro que se prepara para nos beijar sem estarmos disso à espera...mágico...
...e esperto que manadas descontroladas de turistas asiaticos correram para a varanda onde se encontrava e zarpou dali para fora ligeirinho...

Concentrava-se nestes pensamentos quando um banano o puxou para o mundo real.
- da-me atenção xiça...
- não sabes que é um mito a ideia de nós estarmos realmente a ouvir quando vocês falam?
- ah sim?
- é mesmo... apanha-se umas quantas palavras chave e a partir dai faz-se um puzzle caso seja necessário dar a entender que se estava com atenção...
- ou seja... so me queres para uma coisa...
- pela companhia? pelas pevides que me compras? pelo presunto que a tua tia me trás sempre que vem da terra? por todas essas coisas my love...

levantou-se e deixou-a com um sorriso cínico e frustrado na mesa.

abriu a gaveta da aparelhagem, deslizou com a ponta do indicador sobre a lombada da coluna de Cd's do pai e desta um cd.

premiu play e aguardou, aguardou para lá do começo da musica a reacção dela.

- que raio de música é esta????
- Del shannon - runaway... não conheces?
-obvio que sim, mas não ouvia isto à... why... why why why... she runaway... and I wonder... meu deus! ao menos não é aquela da Cher que tás sempre a ouvir...
- a Cher tem músicas mágnifica...
Levantou-se, puxou as calças para cima e o cabelo para trás.
Saboreou o contorno do corpo dela desenhado pelo sol na transparência da camisa, suave, como um traço rápido desenhado a carvão que sai perfeito à primeira.