sexta-feira, 18 de julho de 2008

oh...e ai vem a luz...

"... as trevas nã0 vão demorar..."


O céu à muito que se fecha, sobre mim... não sobre nós.
oh imagem atroz, essa tua.
Tivesse melhor forma de fincar os pés no chão e na minha a tua mão rodopiar... um suave giro sobre o nosso eixo.
talvez levantasses o pé para ficar mais elegante o gesto, talvez me aproximasse de ti um pouco para quiçá roubar-te um beijo.
talvez tivesse eu sentido que era vontade mutua estarmos ali os dois.
não era minimamente o caso agora eu sei.
Não há sombras neste lugar, sem luz que as desenhem.
Não o rosto das coisas que estão para vir, não há indicação de um qualquer caminho até ao sol, não há por onde entre a luz.
É uma música que já não toca mas nos lembramos, sozinho baloiçando o corpo num gesto tão vago... quase inexistente.

forçando encontrar na memória um cheiro que me era tão natural que não o marquei e etiquetei para não o perder.
É muito menos fácil do que antes, dormente pela dor e ausência, é a frio.

e a frio doí muito.



sábado, 5 de julho de 2008

Le Roi est mort... Vive le Roi!!!!

Afastou-o violentamente, com repulsa, nojo.
Estranhou-a, o gesto, o olhar... mais do que as palavras.
puxou-a para si de novo, procurando de alguma forma encontrar dentro dela algo que lhe indicasse que estava perante a mesma pessoa que tão bem julgava conhecer.
- Sai! larga-me porra, estúpido... sai daqui... vai-te embora!
Empurrou-o com força para longe - odeio-te e não te quero ver mais à minha frente.
ditas estas palavras arrependeu-se. Primeiro pelo seu paladar tão determinado e definitivo, depois por lhe reconhecer a mesma expressão séria que o vira desenhar sempre que algo em si quebrava, sempre que o vira arrancar-se de uma qualquer emoção para um estado de fazer o que tem que ser feito.
virou-lhe as costas, era tempo de se ir embora. avançou sem vacilar até a ouvir atrás de si, puxando-o de seguida pelo braço - não tens nada a dizer? ultima oportunidade...
- tenho... estragaste-me a saída...
- continuas uma besta... podes-te ir embora...
- sempre pude...

saiu do quarto, percorreu o corredor como se estivesse ausente, passageiro do seu próprio corpo.
- vais-te embora assim? nunca me enganaste...
parou. lentamente, sem pressas virou-se para o corredor, via-a na porta do quarto, braços cruzados diante do peito, olhar de desafio e soberba que ela vestia de uma forma tão estranha para si...
- não percebo...
- nunca foste muito esperto...
sorriu - não percebo se tinhas uma mascara antes e caiu agora, se eras o que via antes e por alguma coisa de alguma forma mudaste... seja o que for... não te reconheço.
- foste tu que fizeste esta merda, não me ponhas as culpas que eu...
avançou até ficar com o rosto desconfortavelmente perto do dela
- então diz-me o que eu fiz.

aguardou por uma resposta que não veio, nem sequer perdida em entre as linhas agressivas que lhe eram dirigidas.

sentia-se mal, quer por ainda ali estar quer pelo tempo em que esteve e que já não ia recuperar.
recapitulou tanta coisa que podia ter feito se não tivesse optado por dar a ela esse seu tempo, a segunda parte do jogo com o Marselha em que o Tarik fez de Manteiga e o Porto de Brando, a final do campeonato do mundo de Rugby...devia ter visto primeiro no calendário antes de lhe dizer que sim mesmo que fosse para irem comprar ovos ao supermercado para o jantar.
esperou que ela se cansasse, esperou que abrandasse e se perdesse nos raciocinios, esperou que não tivesse nada mais para dizer.
fitou-a. aguardou que voltasse a cruzar os braços diante do corpo, que se impacientasse com o seu silêncio até lhe ser insuportável.
- não tens nada a dizer? ao menos dizias qualquer coisa...
- ah... le roi est mort... vive le roi! viva eu!
- foda-se... tu sabes que eu ainda gosto de ti - aproximou-se para lhe tocar com a mão no rosto, como sempre fizera quando discutiam e o queria puxar de novo para si.
afastou-lhe a mão com delicadeza, sorrindo no gesto, fitou-a e respirou de peito aberto.
mergulhou o nariz no cabelo dela lentamente, aproximou-se sem pressa do ouvido onde se penduravam brincos que lhe comprara em lagos que ela usara no concerto de Dave Mathews a que tinham ido juntos...


- Elvis has left the building...

quinta-feira, 3 de julho de 2008

The Shape of things to came...

"... Acabei por exasperar pelo toque e entrei de vez, deitando-me, fechando os olhos e concentrando-me na pele, na minha pele quente, agradecida pelo toque da água..."



"... Deixei tombar a cabeça até ao seu apoio...de olhos fechados criei na minha mente um espaço, uma tranquilidade inexistente mas que saboreei e a que me agarrei com força até não conseguir conter a minha inexistência e a consciência esticar a corda puxando-me para o meu mundo real..."


"... nesse instante tudo parecia ser como antes, como sempre devia ter sido... mas não, não eram assim as coisas, antes pelo oposto eram os seus dias. Era como se a historia tivesse terminado sem o avisar..."





"... Vazios que carrego comigo, irei livre para onde a minha vontade me levar, irei por mim, por ti e conquistarei a minha liberdade para viver como quiser até ao fim dos meus dias..."

terça-feira, 1 de julho de 2008


"...Leave me out with the waste
This is not what I do
It's the wrong kind of place
To be thinking of you
It's the wrong time
For somebody new
It's a small crime
And I've got no excuse..."


Como se sentisse a inquietação quando a fitava, como se de alguma forma ali ao longe soubesse que era para si que olhava, só para si...
Como se o rodopiar sobre o seu eixo fosse um truque de mágica, os movimentos ondulantes, o rosto sereno, fosse tudo direccionado para o seu lugar, a sua cadeira ali no meio de tanta gente...
sabia ser somente mais um vulto sem rosto, um corno de ombros e cabelo, sem olhos boca ou expressão... mas mesmo assim era para si que a imaginava dançar.
abanou a cabeça e regressou a si, ao mundo real, afinal porquê que haveria de ser ele, estranho ou mais que isso fonte da sua inspiração? como se sentado na praia as nuvens se formassem para desenhar diante de si as imagens que de alguma forma algo lhe indicassem, a si e somente a si.
os ventos e as nuvens esvoaçarem diante de si para o agradar...
olhava não egoísta, querendo dela para si a atenção, mas na ternura de quem saboreia o embalo de uma música prestes a chegar ao seu fim, o corpo que se move lento e vagaroso, terminando o gesto com o chegar da luz, fim de actuação.