segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Actualização aos "fãs"

Patrióticamente chamei actualização em vez de "upgrade" ou Piada do Bad Boy 3000

(aparte cultural, 2001 odisseia no espaço foi assim nomeado pois até 2001 ainda faltava imeeeeenso tempo, parecia natural que o ser humano viajasse pelo cosmos como quem vai ver as vistas no barreiro - só poderemos dizer que triunfamos enquanto espécie no dia em que todos nós homens machos tivermos a nossa Cherry 2000 e não precisarmos de fémeas neuróticas para literamente nada)

vamos ao que nos trás aqui hoje - ou amanhã, consoante o dia em que lerem isto...

bem... no fundo isto é uma viagem no tempo, o meu eu PRESENTE, está a desperdiçar o vosso tempo leitor... no FUTURO
logo, é uma viagem temporal, como um feitiço que demora a fazer efeito

adiante

depois de esclarecer que cherry 2000 é um filme de ficção cientifica onde as mulheres foram substituidas por robots...

continuam a haver femeas para reproduzir a especie mas... ninguém se casa com as originais ou as atura...

ADIANTE


- piada do bad boy -


ela - sabes... não sei porquê... mas... é como se tivesse alguma coisa que me fizesse gostar dos maus rapazes... dos bad boys....

ele- optimo... sabes... dei um soco num bebé...

(silêncio)

(entra a actualizaçao)

ela - estás a falar a sério?....

ele - não... achas mesmo que ia dar um soco num bebé? são tão queridos... foi numa foca bebé...



sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Os Três desejos...

Espirrou, respirou e espirrou novamente.
porcaria de pó.
se ainda fosse do bom... mas não, era somente pó.
camadas e anos de pó a mais... esquecimento num sótão velho.

teoricamente ser-lhe-ia fácil encontrar a porcaria do cavalete, afinal, tinha sido despejado na empoeirada tumba de velharias poucas semanas antes.

não era o seu dia de sorte.

afastou caixotes e livros, enciclopédias de quando os planetas eram nove e duas as Alemanhas.
Discos, o belo analógico negro, plástico barulhento, e o boné vermelho preso à cintura do Bruce Springsteen ...

Clássico...

Quatro livros do Verne, Demasiados da Agatha Christie com o Mítico Morcego - demasiados pois o fundo do caixote cedeu-lhe o conteúdo sobre os pés.

mexeu e remexeu.

procurou exaustiva e preguiçosamente depois.
caramba, um cavalete não é propriamente um objecto de bolso...
(porque era gajo, se fosse fêmea de certeza que o conseguia enfiar na mala entre mil outras não necessárias coisas)

caixote estranho.

não era dos seus, era mais antigo.
via-se pelo aspecto do cartão e pó.

desembainhou o canivete Suíço, avançou carrasco determinado, e num golpe firme e mortal, rompeu o papel numa nuvem vingativa de pó que o levou novamente ao festival de espirros em cadupa.

tesouro de Montecristo... não melhor, menos ouro mas melhor... muito melhor.

De capa cosida à mão, as mil e uma noites, edição de 1923, atlas histórico de 1893, uma lamparina, um sapo em madeira - para o que quer que isso fosse, selos, muitos selos descolando-se nas folhas de um livro... as fotos... as fantásticas fotos acastanhadas com o ondulado branco na moldura, as roupas negras... mangas em balão!
outro livro - tom sawyer...
cartas... manuscritos começados por "caro senhor", em respeito não os leu de imediato, talvez numa outra solene ocasião.

Uma bussola, de metal curruido onde o norte parece ser o antigo e não o presente, sendo obviamente o mesmo...

no fim, aguardando a sua atenção, uma pequena caixa de madeira escura.

retirou-a e sentou-se no chão.

abriu-a e deparou-se com um elegante abre-cartas na forma de uma cimitarra moura.
lâmina prateada, punho em ouro.
no verso do tampo da caixa lêu para sua estranhesa as palavras escritas - nunca limpar

havia pó, uma fina camada deste sobre a lâmina, esticou o indicador e deslizou o dedo sobre o metal até este reflectir o seu rosto.

- mas és parvo ou não sabes ler?

saltou do chão, susto dos sustos... o mega-susto

um grande cagaço enfim

olhou em redor sem encontrar ou compreender de onde vinha a voz

- repito, és parvo ou não sabes ler???

manteve o olhar fixo no fundo oposto do sótão de onde se encontrava, recusando-se a olhar para a voz que lhe falava do abre-cartas que tinha na mão

- podes olhar que não te mordo... e era uma pergunta retórica...

esbugalhou os olhos, e deixou o abre-cartas cair no chão.

não resaltou, esmagou-se quieto como se tivesse o peso de mil quilos e não as suaves gramas que sentira na mão.

- isto é da coca cola... ando a beber demasiada coca cola... e café... só pode...

- não meu caro... da-me um segundo...

para além de se ter dirigido oralmente a um abre-cartas, este não só respondia, como ficou por instantes à espera que algo sucedesse como se fosse a mais natural acção de se fazer quando na presença de pequenas cimitarras mouras para abrir envelopes.

- atrás de ti

voltou-se. não em camara lenta como nos fantástico filmes de terror em que descem sozinhos para a cave onde sabem que está o assassino do pantano à procura do Tommy... e depois de perceberem que a luz não acende... entram na cave à mesma...(e também não fogem quando vêem o sangue, teem que ir mexer no cadaver e porem-se de costas para a porta...)

enfim... e adiante

rodou o corpo devagar.
não sentia medo, mas sim aparvalhação com tal instante... estaria a dormir? sonhava?


granda sonho!


-olá! como estás para além de confuso e com cara de parvo?...

estava com uma ligeira taquicardia o que era de esperar, estava pasmo também, mas sem receio.
olhava para a figura diante de si.
primeiro cerrando os olhos, focando-a para confirmar que era real, depois na certeza da sua presença...
confuso...

-aaah...

-bbbbb...cccc....

franziu o sobrolho, de perdido na situação encontrou-se tenso e sério...
e desancou-se a rir.

- bem... ler não sabes... mas ao menos tens sentido de humor... senta-te

sentiu as pernas dobrarem sem ter voto na matéria, sentiu o seu rabo encostar-se num cadeira que de certeza não estava ali segundos antes...
aproximou-se... devagar e sempre a sorrir. sentiu o ímpeto de chegar para trás o corpo mas este não lhe respondia, viu-a dobrar-se ligeiramente na sua direcção, como se lhe fosse dar um carinhoso beijo na testa... sentiu a mão dela sobre o seu rosto... suave... até esta lhe presentear um forte estalo de mão bem aberta

- como sentes, não é um sonho... estou aqui...

sentou-se numa cadeira que também não estava ali...
doía-lhe o rosto, ardia... chiça...

- chamo-me... bem... tens alguma sugestão?

- parva...

- ah ah... piadas conto eu...não me obrigues a reafirmar o quanto estou realmente aqui... mas estou a ser simpática... é que o meu nome é um bocado para o estranho...

- ah... o nome... pois, era o nome que ia ser estranho...

- como quiseres, chamo-me Sirahc... podes-me chamar Sira...vamos ser amigos eu e tu...

- é opcional ou...

- não é opcional... lamento... mas depois de me conheceres e enquanto aquilo que estou aqui a fazer não estiver feito... vou ser tudo o que tens... podes não gostar dos jogadores, mas se é a tua equipa que está em campo... torce por ela!

não sabia o que lhe responder.
quer pelo surreal da situação, quer pela dificuldade em convencer a sua mente que os seus olhos não lhe mentiam... quer por a achar deslumbrante...

- eu consigo saber o que tas a pensar... nada de javardices já agora... mas obrigado pelo elogio

- como? que elogio?

- achas-me muita coisa de interessante num modo que me agrada que aches... isso enquanto observação da minha imagem... mas olha que não sou apenas uma cara bonita... também tenho sentimentos... mas... vamos às apresentações...
sou tipo... um génio da lâmpada mas em interessante, tenho poderes e tal... mas não o cliché de - tens três desejos...
estou aqui porque é o momento de estar na tua vida, nem amanha, nem ontem, hoje é o instante de eu surgir para ti... e mudar a tua vida, dar-te oportunidade de voltares a três instantes da tua vida e mudares algo neles... mas só podes ficar com um deles... esqueces tudo e recomeças a partir desse instante com a alteração que escolheste... e as consequências dela obvio.

- não percebi...

-ninguém percebe... eu explico outra vez... eu sou energia real, de ti, em ti e em tudo em teu redor...faço parte de ti e posso fazer parte de tudo se eu o quiser. Estou aqui porque o menino não sabe ler e limpou a lâmina... e como tal... estou aqui para cumprir o meu papel de levar-te a três instantes do teu passado emocional, e nestes, dar-te a oportunidade de os mudares, mas só podes ficar com um deles...
simples.

sorriu. afastou o cabelo loiro do rosto e encostou-se majestosa na cadeira que de madeira cresceu até se transformar num vermelho aveludado cadeirão.
o vestido simples e branco subiu pelas pernas até pouco abaixo dos joelhos, agora negro sobre collans de renda, sapatos pretos, casaco negro e ... pronta para entrar em cena num filme de gansters dos anos vinte

- gosto da pena no cabelo... mas... porquê eu? o abre-cartas...

- olha... sei que tas formatado para o génio dos sapatitos com a ponta em caracol... mas primeiro eu tenho bom gosto... e depois... uma história falsa ás vezes tem nuances da verdadeira... quanto a escolher-te a ti... bem... és tu porque só podes ser tu. e agora. aceita, não questiones. olha para isto como algo que sabes que sentes sem saber porquê mas que faz todo o sentido quando o sentes...

- e os desejos?

- momentos... se parasses de te babar comigo... e reparasses no que eu digo...

- eu não me estou a babar contigo... és engraçada e tal... mas... digamos que estalo na cara... eh pa, espera lá... isto está a ser demasiado alucinado para ser real... giro... estou a sonhar e tenho noção que estou a sonhar...

levantou-se, colocou-se de pé e ajeitou a saia para baixo abanando-se. não estavam lá mas passaram a estar, mangas em luva, pretas.
segurou na ponta da luva da mão direita do dedo indicador e puxou-a ligeiramente, repetiu o gesto em todas as pontas de todos os dedos.
avançou um passo e inclinou-se novamente

- olha bem para esta cara que é a minha cara de ofendida

e afiambrou-lhe outro estalo com a mão despida na cara

- vais voltar a questionar que estou aqui?

acenou negativamente

- lindo menino... mas vamos ao que interessa... presumo que queiras despachar o assunto não? eu não tenho propriamente pressa... mas talvez seja do interesse do teu queixo resolvermos isto rápido não vás lembrar-te de me questionar outra vez...

- eu ainda não percebi nada... já me explicaste... eu sei... mas quem és... ou o que és tu?

- Sira...

- isso já disseste, mas o que és? como surgiste... etc...

- não sei...

sentou-se, cruzou as calças de ganga com boca de sino que lhe cobriam as pernas, ajeitou a boina de cabedal castanho a condizer com o casaco

- sinceramente não sei, sei que estou aqui e o que estou aqui a fazer... e aceito-o, como seria bom para ti se o fizesses também...

-mas... isto é o quê afinal? actividade de fim de semana?

- hoje é terça... o Porto joga amanha para a liga dos campeões... como se tu não soubesses....

- olha Sira...

- uhh disseste o meu nome... sexy... continua...

- eh pá... Si... tu... eu estou no Sótão... e ... põe-te no meu lugar...

- queres mudar de cadeira? elas são iguais...

(estavam ambos enterrados em puff's pretos...)

- eu ponho-me no teu lugar, sei que é confuso, dai ter-te dito para despachar-mos o assunto o mais depressa possível para rapidamente perceberes como isto funciona...

- mas se vou para um momento...

- emocional , esta parte é importante... é um momento emocional do teu passado

- se vou para um momento emocional, e o posso mudar, ele não vai afectar os outros momentos seguintes?

- não, porque vamos do mais recente para o mais antigo, como tal, tudo o que fizeste até esse momento se mantém, e assim podes escolher facilmente qual dos três...

- porquê três?

- porque somente te apaixonaste três vezes... a sério... a afilhada da tua mãe não conta... que tu querias era convívio e as massagens um ao outro... enfim... adiante...

- tu não respeitas nada... não posso ter privacidade? não posso pensar nalguma coisa

- como daquela vez que beijaste um gajo?

- o quê????????

fechou os olhos surpreendido com a luz forte de um flash.
viu-a recolher da máquina a fotografia da sua imagem irada de indignação

- lindo! a tua cara... ah ah... eu sei que nunca beijas-te um gajo pá! alias... tens é que controlar a tua taradice por gajas... e respeita-me... que eu sou uma senhora!, mas a tua cara... deixa secar a foto que já vês... muito bom...
vamos ao primeiro instante?

- como sei que instante escolher? como sei de quem escolher o instante?

- pergunta mais parva... tu sabes bem de quem gostaste... mesmo que te tentes enganar às vezes, mesmo que o negues... ou procures colocar alguém do presente por cima... tu sabes bem o quanto se cravou dentro de ti, sabes que é algo que faz parte de ti e tem força...

- e tu sabes qual é?

- eu sei tudo. PONTO.

- as mulheres sabem tudo sobre tudo... Rudyard Kipling

voou pelo sótão vitima de um gancho de esquerda sem aviso
aterrou desamparado na colecção da Agatha Christie que afinal não eram livros a mais pois foram a almofada da sua queda
deixou-se ficar quieto, primeiro porque lhe doia o corpo, segundo porque quem sabe se se fingisse de morto ela se fosse embora, e terceiro... era arrebatadora a imagem dela, avançando na sua direcção lentamente, recheio de um sensual vestido vermelho

- acho que já não voltas a dizer a dizer idiotices como essas pois não?

sentiu que não se conseguia mexer, mesmo que o quisesse...
viu-a subir ligeiramente o vestido com as mãos, colocou uma perna de cada lado do seu corpo, e sentiu-a sobre si.
quente e tensa, como alguém real... era real, era tão real como ele mesmo, estava realmente ali...
linda, bela, deslumbrante...
o cabelo louro solto sobre o seu rosto...
sentiu as suas mãos fora da sua vontade moverem-se para a cintura dela, rodeando-a.
sentiu-a subir com as mãos dela pelo seu peito até ao seu pescoço.

viu-a sem conseguir controlar o seu corpo a aproximar-se do seu rosto

- não tenhas medo que não magoo...

sentiu-lhe os lábios nos seus, devagar.
sentiu-o a língua dela devagar invadi-lo, até a sua a deter

e subitamente nada.

abriu os olhos e o sol desfocou-lhe o espaço, contornos vagos em seu redor, como se estivesse num quadro impressionista de óculos com a graduação errada
ouvia vozes em seu redor, distantes mas familiares
abanou a cabeça e tudo nítido se tornou

diante de si o verde, o rio, as vacas preguiçosas... pelas quais se deixara ficar para trás para fotografar
no carreiro não muito distante viu-a desaparecer após a curva como antes...
não era como antes, era o antes, era o mesmo momento, o mesmo ser, o mesmo corpo o mesmo dia o mesmo instante...

mas desta vez... era ele que era diferente.

podia ter as mesmas jeans, os mesmo ténis, estar na mesma bicicleta como antes, podia ter os mesmo patos que desta vez não ia "acidentalmente" atingir com uma sandes de fiambre por uma aposta de cinco euros... não, desta vez ia aproveitar ao máximo o instante, ia directamente para o jardim...

pedalou como louco, como se não houvessem curvas ou distância que o fatigasse.
pedalou até não puder mais pedalar
largou a bicicleta no chão e correu.
saltou sobre a cerca do jardim e avançou até ao sitio onde capturara a imagem dela nesse instante -desta vez um pouco mais cedo para fazer render o tempo

como antes, observou-lhe o cabelo em caracóis solto sobre os ombros, as calças cinza e a ginga de miúda no baloiço.
os pés para o ar...
estremeceu na imagem.
sabia que estava tão perto o instante...

a qualquer momento...

viu-a abrir os olhos e sorrir, viu-a avançar para si... não era memória ou saudoso pensamento, era real e presente... vivia o momento.

sentiu-a segurar nas suas mãos, cheirou-a na proximidade, afastou-lhe os caracóis do rosto para lhe fitar os olhos que descobrira adorar quando esta trucidava um super-maxi na praia do vimeiro sem educação ou maneiras mas com muita gula e vontade...

empenho acima de tudo

sentiu a mão dela na sua orelha, polegar com o indicador.
para trás e para a frente como era sua obsessão fazer

caramba, ao tempo que não sentia aqueles dedos, aquele gesto...
se antes ás vezes irritante, agora ...
delicioso.

desceu-lhe com as mãos até as ancas
adorava-lhe a curva das ancas
estar lá com as mãos como quem se esponja no sofá a ver documentários ao fim de semana
estar por estar e ser ali
o toque da sua pele na dela na fronteira das calças

sentiu o momento e repetiu-o
repetiu-o como antes
todos os seus gestos iguais e mecânicos...

já não era tempo de saborear mas repetir, rápido e partir... ir embora depressa.

estava a doer.

afinal... recordar é uma coisa, sentir e estar no momento com a consciência do que se vai perder... é simplesmente...

cruel.


viu-a sorrir e continuar caminho. viu-se partir de onde estava acompanhando-a como se fosse um reflexo dele mesmo, um outro igual corpo

o momento chegara ao fim.

- hey...

voltou-se e estava novamente no sótão
fugiram-lhe os pés do chão e caiu confortável num sofá, ao seu lado, viu-a de óculos na ponta do nariz, cabelo apanhado preso com um lápis e bloco de notas nas mãos

- diz-me... o que te fez sentir...

sentiu que se podia mexer e sentou-se.
percorreu o cabelo com os dedos, suspirou.

-foda-se...

- eu compreendo... desculpa a piada psiquiátrica... fala.

- e digo o quê? queres que te diga o quê? - estava a levantar a voz em irritação

- quero que me digas porquê que não mudaste nada... não percebi.

- e tens que ser tu a ter as respostas? eu posso ser a tua marioneta e sofrer com este teu jogo nojento... e és tu que tens que ter as respostas?

- podias ter feito o que quisesses e optaste por não mudar nada... não compreendo

- e eu tenho que compreender porquê que tenho que reviver aquilo? porquê que me sujeitas a estar ali... eh pá, tu sabes... tens que saber já que sabes tudo... tu sabes o quanto é difícil sentir que aquela pessoa, aquela gaja ali comigo não é a pessoa que existe hoje no corpo dela...

- ou então sempre foi o que é e tu é que a vias de...

- eu sei isso! e se isso for verdade aquele momento é nada.

- preferes ter um momento bom e agora ser mau a teres um momento falso e agora ser menos mau?

levantou-se do sofá. olhou-a nos olhos e sentiu que a pergunta era curiosidade genuína

- tu sabes os meus pensamentos mas não sabes o que eu penso... ou sinto.

viu-a desviar de si os olhos para o chão.
era a primeira vez que descobria algo sobre ela... por si, sem ser informação orientada.

- tu consegues ver as imagens na minha mente, e sabes a informação factual, sabes que pintei o quadro de preto, mas não sabes porquê...

- sim, há coisas que não consigo descobrir...

circulou pelo sótão em silêncio. de tempos a tempos voltava-se para ela e fazia tenção de dizer algo sem que acabasse por dizer qualquer palavra.

fartou-se de o ver assim. levantou-se, atirou o cabelo para trás dos ombros e este entrançou-se no ar, desceu com as mãos pelo peito e abriu os braços para os lados revelando-se num vestido longo, mangas compridas e em forma de jarro.

ficou quieto, vendo-a mudar de vestimenta no tempo de um pensamento.
parou diante de si
sentiu a mão dela na sua cara
abraçou-o.

abraçou-o enroscando-se até obter retorno no gesto.

sentiu-a roçar o rosto no seu pescoço, devagar...
sentiu o pescoço húmido de um beijo, rápido e de fugida.
sentiu-a subir o movimento e outro beijo, agora mais devagar e demorado, sentiu-se com vontade de se encontrar a meio caminho
deslizou até a sentir respirar sobre a sua boca e beijou-a sem pedir licença, puxou-a para si pela cintura e beijou-a com ganas e determinação.
sentiu-lhe as mãos dela deslizarem para a sua cintura...
dai para o seu rabo.
sentiu-se apertado
sentiu-lhe a mão livre no peito
sentiu-se a voar pelo ar num empurrão

e tudo era água em seu redor.

respirou atrapalhado ao encontro da superfície.
voltou-se e viu uma onda a cair sobre si sem tempo de mergulhar novamente.
rebolou, ergueu-se e respirou e voltou por sua vontade agora a mergulhar...
aguardou a passagem de outra onda e emergiu...
agora estava ao ritmo do mar, estava em controle...
sentiu uma mão puxa-lo pelos calções...
sentiu o corpo dela contra o seu...

deu-lhe a mão como sabia que era para fazer.
puxou-o atrás de si até o mar ser apenas figurante e tímido - pela altura dos tornozelos; sentou-se e puxou-o atrás de si.
aguardou que estivesse sentado para se apropriar do colo deste, de frente para si.
mordeu o lábio, juntou o ventre ao corpo dele desafiante... procurando estimular e excitar
pressionou e moveu-se suavemente até ser forte o resultado da sua intenção.
levantou-se e correr para onde o mar era mais fundo.

sabia qual era o seu papel na peça...

suspirou e seguiu-a

ela sorria, sacana... tinha um sorriso tão sacana...
irresistivel...

sentiu a água pela cintura e o momento ser presente no instante que as suas pernas o rodearam e a mão dela lhe entrou pelos calções
cobertos pelo mar, o corpo dela contra o seu, devagar primeiro, quente...
deixou que ela o beijasse.
não somente por beijar bem e até ser porreiro matar a saudade e tal... mas por saber que tudo mudaria senão o fizesse... copiava os gestos e a paixão
era um karaoke temporal
não precisava da letra em baixo, sabia-a de cor, era seguir a música e não desafinar...
uma onda pequena,
uma onda grande,

sentiu-a afastar-se do seu beijo

uma onda pequena...

- eu amo-te... e tu?

uma onda mui grande como sabia e da qual não se esquivou...

emergiu e estava seco.


viu-a de braços cruzados, perna ligeiramente de perfil,
uma fita grossa branca prendia-lhe o cabelo para trás sem estar amarrado
botas de cano alto, mini saia com camisola de gola alta preta com um cinto grosso branco...
abriu-lhe os braços em estupefacção

avançou para ela e tentou dar-lhe um beijo rápido ao qual ela se esquivou

- hey... achas que isto é assim? chegas aqui e saltas-me à boca?

- despachar-mos isto...

sentiu-se preso sem se conseguir mexer... mentalizou-se para apanhar
colocou as mãos nas ancas diante dele

- ok...

- ok o quê? vamos despachar o assunto... vamos à Sofia que é a que falta, foi a minha primeira namorada, não me deves mandar para a primeira vez que eu e ela coiso e tal porque esse momento não ia mudar grande coisa tirando agora não estar tão nervoso e provavelmente ter uma melhor performance... não que tenha sido mau, aqui o pantufinha faz sempre por ter o serviço bem feito...

- estamos a tornar-nos numa besta....

- e a culpa é minha? estava somente à procura do cavalete...

- e tiveste uma hipotese que ... não... três hipóteses que ninguém tem, que todas pessoas sonham em ter... e o que fazes? nada! vais escolher um deles quando não mudaste dois... quando provavelmente vai correr tudo na mesma...

- sou obrigado a escolher?

- és... ou isso ou nada, esqueceres-te de mim, disto e ...seguires com a tua vida com todos esses momentos perdidos para sempre... todas as oportunidades desperdiçadas duas vezes... que raiva! das-me raiva... como és capaz? deixas passar duas vezes a mesma pessoa...

- se quiseres explico-te antes de irmos à terceira e podemos ir almoçar... íamos ao japonês...

deu-lhe um estalo. empurrou-o para uma cadeira que não estava ali antes mas onde embateu com força.

- eu sou isto, este instante para ti, sou isto até tu completares o teu desejo, e tu... gozas... eu sei que sou isto e aceito, sinto-me feliz até por isso... ao saber o que és, fazer-te feliz, dar-te o que querias, que era ser feliz não? e tu? tu limitas-te a agir como um merdoso qualquer que não dá importância... como se agora fosse insignificante para ti aqueles momentos teus que eu sei que são pesados na tua balança.... sei também que não te fazes de forte agora, não sei o porquê dessa tua indiferença... desse teu "estou-me a borrifar, bora ver do almoço?" quando sei que te custou, te doeu, te fez sofrer e se cravou em ti todas as ausências, de todas elas, de ti com elas, de ti também.
não isto... tu não eras isto... nojo.
não eras assim com as coisas antes disto...
estou arrependida de te ter escondido o cavalete...

- como?

sentiu o som desvanecer-se até deixar de se ouvir.
falava mas não se ouvia, não tinha som.
sentou-se diante dele. fitou-o por muito tempo até o sentir rouco sem conseguir falar.
gastara-lhe a voz.
levantou-se.
túnica branca cobria-lhe o corpo.
era romana nas vestes, no cabelo com caracóis.
não sorria.
aproximou-se e tocou-lhe com a ponta do dedo no nariz

- estou realmente com pena de isto não funcionar com um beijo à esquimó... estou com nojo do que te tornaste...

não conseguia falar, não se conseguia mexer.
queria dizer qualquer coisa, explicar-lhe, sorrir-lhe, dizer-lhe o porquê das suas não opções, ou não mudança... ou dizer-lhe até que já sabia o que queria e compreendia agora... mas não podia fazer nada...
sentiu-a suave e fria na sua boca.
sem língua, que isso fica guardada para um amante
não um canalha como ele

abriu os olhos
viu-a, o seu primeiro amor.
sentada diante do piano de parede no quarto dela
a camisa azul era a dele, estava divina...
o corpo nu somente de camisa coberto...
e ficava-lhe tão bem aquela camisa...
viu-a aproximar as mãos do piano e ficar suspensa milímetros antes do som finalmente se fazer ouvir...

levantou-se da cama em silêncio quando ela flutuava a melodia pelo ar.
rodeou-lhe o corpo pela cintura até ao peito.
beijou-a no pescoço, beijou-a na boca torcendo-a para trás, descendo pelo seu corpo até a estremecer com as suas mãos entre as pernas dela
sentiu-a adensar os beijos, apertar mais o seu pescoço com os dedos
deixou-a levantar
deixou-a puxa-lo para si
deixou-a sentar-se sobre o piano, e o seu corpo contra si

deixou tudo como antes

abriu os olhos

sorriu
mas ela não lhe sorriu de volta

- odeio-te! eu odeio-te...

tentou falar mas novamente, não som....
tentou gesticular mas os braços não se mexiam
tentou pestanejar mas ela simplesmente o ignorava

nem olhava na sua direcção....

- eu pensava que sabia o que eras, e adorava... adorava o valor que davas ás tuas coisas, ao teu passado... por pior que ele fosse depois.
Um beijo de cada vez, cada vez importante.
mesmo quando a outra te torceu e magoou até doer muito e teres que cortar com ela, teres que fugir dela... e o mar ser somente uma recordação distante, ou quando o jardim na Alemanha ser atropelado pela má pessoa daquela mulher... para nem falar da primeira... tu podias mudar isso tudo e nada... podias muda-las, mudar a tua vida com elas nesses instantes, fazer algo, nem que fosse desviares-te de uma onda e responderes - amo-te - no momento certo... abraça-la depois do baloiço e um amo-te também ali ficava bem para quem sabe a prenderes emocionalmente e ela não te fazer o que fez depois... e tu... nada... NADA!
e porquê? não consigo perceber porquê...

e agora...

agora vou-te dar um beijo e tu vais acordar sem te lembrares de mim na situação que te apeteceu escolher... e tudo isto...

palha...

eu gostava tanto de ti...

viu-a avançar para si toda de preto, um sobretudo negro comprido como quem vai partir numa fria noite em viagem.
via-a-lhe o rosto molhado.


- é o nosso ultimo beijo...

limpou o molhado do rosto
estava triste, muito triste com ele.
se antes era simples aceitar o ser das coisas, fossem elas pelo motivo que fossem...
aceitava e era bom.
agora era apenas triste.

segurou-o pelo rosto sem o deixar falar, sem o deixar mexer.

olhou-o nos olhos e tentou não chorar novamente

aproximou-se e tocou-lhe devagar, como se conseguisse que o tempo parasse nesse instante e ficasse assim ou para sempre, ou eternamente...
sentia o molhado do seu rosto nos lábios, nos dele, a meio dos dois
beijo-o demorado e rapidamente várias vezes... até que se afastou.
era triste demais para conseguir não chorar

abriu os olhos e sorriu.

- olá...

esbugalhou os olhos
deixou cair o queixo surpresa

- ah....

- B e C Sari...

aproximou-se e deu-lhe outro beijo, rápido e técnico, e afastou-se para tudo estar igual

- mas...

agarrou-a pela camisola de lã
reclamou-a para perto de si
abraçou-a e beijou-a na cara

- mas... e...

- e ... mas ... nada.

- não compreendo - sentou-se numa cadeira de metal preta que não estava ali até se sentar- eu sei o que estou aqui a fazer, e... era suposto agora...

- eu ficar com aquela que eu quero?

- exacto...não sei... confesso-te que não sei qual delas ias escolher já que não mudaste nada com nenhuma delas... mas talvez a Sofia... não sei... e estás aqui...

-contigo...

- mas eu sei que as coisas são como são, sei que era agora que estarias lá... na tua opção.
não preciso de saber o porquê quando sei que é e aceito que assim o seja... agora tu aqui...

levantou a mão e depois de o sentar numa cadeira igual à sua puxou-a pelo ar até ficar diante de si.

- não percebo o que falhou... tirando obviamente teres sido uma besta e teres deixado tudo igual... mas...

- posso falar?

- não, não tens direito. és um verme, um nojo, depois do que fizeste e melhor... do que não fizeste tirando aproveitares-te e andares a comer as ex's com a minha ajuda ainda por cima, não tens direito a nada.

- beija-me outra vez, pode ser que...

calou-o com a boca...
sentiu-o rodopiar dentro da boca, sentiu-o sorrir nos seus lábios... abriu os olhos e viu que não só continuava ali mas viu que também sorria como se fosse o seu dia de anos e tivesse "finalmente" recebido um pónei

deu-lhe um estalo.
mas... estava a gozar com ela? a pedir-lhe beijos para gozar com ela?

- mas tu queres que eu te magoe? que dê cabo de ti? tu sabes que eu posso se o quiser, é tão simples como pensar no assunto...

estava irada, avermelhada no rosto e expansiva nos gestos de ameaça, digamos que se tinha passado.

com força

(e empenho)

atirou-o pelo chão para reler a Agatha Christie mais uma dolorosa vez, avançou sem saber o que ia fazer quando lhe colocasse as mãos em cima, apenas sabendo que lhe ia doer... muito.

- eu desejo-te a ti...

agarrou-o pela camisola e levantou-o.
atirou-o para o chão
empurrou-o com o pé fazendo-o deslizar até embater na parede
ia magoa-lo mais... se ele pensava que podia se aproveitar dela e...

- o quê que disseste?

viu-o tentar se compor. sentar-se era complicado quando o chão não é um sitio fixo e credível

- tu... eu desejo-te a ti.

avançou veloz e ajoelhou-se ao lado dele
afastou-lhe as mãos sem que ele tivesse voto na matéria que ele levantara para se proteger
levantou-lhe o rosto na sua direcção

- o quê que tu disseste?

- eu tu... eu desejei ficar contigo... tinha que escolher e...

- estás a gozar comigo? tu fizeste o quê?

levantou-o e sentou-o num banco de estirador que não estava ali antes
tirou o casaco comprido e ajeitou a camisa branca.
puxou ao sitio as jeans azuis e voltou a erguer-lhe o rosto na sua direcção.

- fala, explica.

- sim...

doíam-lhe os braços, as mãos, o queixo e o rosto, tinha pontadas nas costas, tinha um pé torcido e a inchar.
doía-lhe tudo e mesmo assim de vontade rapidamente se apoderou do rosto dela e encostou o lábio inchado à boca surpresa de Sari
hávido e sedento
pensou, criou e desenhou todas as imagens que sabia que ela tinha o poder de ver na sua mente
enquando deixava a sua boca - e doia-lhe... muito - fazer o resto do serviço
afastou-se e receou...

- acho que percebi.

sorriu

beijou-o

enves de ser momento era presente.
não era energia e ser para comprir a missão, os três desejos, era pessoa agora, ser real e definitivo.
livre de um abre cartas.
livre para ser
livre para ser com ele

com um tremendo mau feitio e um enorme guarda roupa.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Abre a janela do teu quarto mulher!

colocou a mão no peito. confirmar vida, prova que era humano, estava vivo e coiso e tal.
as mãos estavam frias, arrepiou-se, bom sinal.
era por alguém?
era com alguém?
era para alguém?
ou ninguém que se encontrava alí?


era humano ao menos, bom sinal talvez, prelúdio de grandes dificuldades...
graça e virtude nos seus desenhos, empenho e talento... pelo menos vontade.

o que já era muito bom.

qualidade é sobrevalorizada quando o que interessa é o convívio, é a piada que somente dois num jantar de trinta se desfazem a rir.

respirou fundo e deu as condolências às suas hesitações, foram uma boa companhia, fiel e presente durante muito muito tempo na sua vida, mas tal como aquela ex que nunca se calava... teve que as mandar abater.

tirou os sapatos
porra, descalçou-se e sem pensar...
correu pela areia até ao mar... a caminho desnudou-se camboleante, mas sem perder direcção ou desejo.

gelada, dolorosamente gelada no rosto primeiro em pequenas gotas, depois nos pés até mergulhar e todo o corpo estremecer, se soltar e viver estridente

cordão umbilical cortado, falta todo o resto.
oh se falta... todo um resto de anos a acumular pó até ao presente, até despir o casaco molhado num dia de sol

até a voz e a imagem diante do espelho... estarem finalmente ao mesmo tempo.
era tempo de coisas novas, diferentes...

ou da mesma coisa mas em diferente

mudar radicalmente de café e morango no gelado para morango e café

deixar para trás no tempo as meias-de-leite e pedir um galão

deixar de ser um canalha para as mulheres e ser somente um pulha, um pulha galante obviamente

como se ele já não fosse o mesmo, e alguém distante, observador isento de si mesmo, do seu passado
e tudo ter recomeçado, diante de si lápis de cor - dos comestíveis óbvio, e folha branca

era o momento que ansiava, o momento em que se libertava e arrancava para a curva antes da meta isolado e distante... mas acelerava

só porque podia acelerar...

e sentir o vento veloz no cabelo.

vestiu-se, meio molhado -o que isso importa, e afastou-se do mar...
sorria, sorria com o rosto todo, com todo o ser
era mais que humano, era energia e vida, era o que ia fazer antes de ter feito
era rodopiante e determinado, era grandiosamente pequeno no gesto que conspirara
um pequeno gesto.

um pequeno gesto criminal.
(afinal era uma doce delinquência, arquitecto a pintar nas paredes...)

fitou-se no seu reflexo, o seu rosto antigo como quem aguarda perdão...
pediu-lhe desculpa, mas tinha que o deixar partir...
depois dar-lhe-ia noticias, mas a decisão era final definitiva, e irreversível

(já tinha as mãos todas sujas de amarelo...)


bateu-lhe na porta de casa, não da rua como os estranhos, mesmo na madeira de quem não precisa de convite para chegar tão perto
aguardou.

sorriu-lhe

atirou-lhe um beijo sem pedir licença, invadiu-lhe a boca voraz mas ternurento até sentir que era reclamado e não um invasor
sujou-lhe roupa e cabelo, pele e rosto com as mãos de amarelo


entrelaçou-lhe os dedos na sua mão e arrancou com ela pelas escadas até à rua
contornou o prédio até ficarem na rua da janela do quarto dela, na rua onde tantas vezes aguardara vê-la na janela surgir... venenosa nos seus encantos
mulher demónio deslumbrante

- disseste-me sempre que gostavas de flores... e estava tudo fechado...


sábado, 11 de outubro de 2008

...Forever Young...

Algumas vezes era demais, muitas outras vezes igual.
algumas vezes dentro de água, olhos abertos...
algumas vezes era a melodia envolvente, mais que a batida...

era sempre estranho, aguardando algo que não vem.

era mais que este vazio cheio de coisas que não consigo totalmente compreender - ou não as quero.

opções minhas que me destroçam, que me magoam quando não as quero tomar, e sei que tenho...
memórias ou sonhos horríveis que sempre se lembram de me acordar, que me gritam aos ouvidos, que esmurram nos dentes sempre com aquele sorriso camarada de quem nos vai cravar o pequeno almoço.

como sempre...

dá vontade de agarrar naquela pessoa pela mão, rodopiar a sua fantástica silhueta em meu redor até não haver música que nos acompanhe, não haver motivo para ali dançarmos e ser apenas...
estarmos a olhar para o céu.

para sempre.

queria então eu ser eu nesse momento... ser esse momento totalmente - como a água envolvente...

é difícil envelhecer sem um rumo, sem porto azul de destino...

e eu...
à procura desse meu porto azul.


anda dançar com estilo... presença e força, volta para trás comigo no tempo, solta o teu cabelo e sorri

numa praia de areia fina, ou mesmo da grossa que nos faz cocegas nos pés...

onde o mar quebra mais forte e nos salpicamos ainda distantes...

nós ali... numa fotografia a preto e branco...

para sempre.

seriamos a tal melodia... música flutuante, no teu cheiro ao beijar o teu pescoço... ao morder o teu pescoço.

mas é coisa que não me pertence.

essa dança feliz, essa frase de quem diz que o mundo pode esperar... afinal, ainda estamos a olhar para o céu.

pertence-me os meus "para sempre" sinceros, e os falsos... em que acreditei.
onde me espalhei tosco.

já não é bom aquilo que foi, contigo, comigo, connosco e com os outros, com todos nós e a pestana.
já perdeu o gás a bebida, e sinceramente... se for para morrer como esta, dá aquele desanimo de pedir o mesmo outra vez.

Já não tenho tantas camisas engomadas no armário como antes...

já não tenho a paciência de me barbear...

já nem me recordo da letra daquela música catita que inventamos, aquela que terminava num teu solo esganiçado de voz...
já não me lembro sequer do teu nome mulher.

mas sei que dancei com estilo.... triunfante.

vamos morrer jovens ou viver para sempre?
será que a música é somente para os homens tristes? tocada por um homem louco para quem se enganou na sala e ainda não percebeu onde é a saída...
porquê que não conseguimos estar nesses momentos mágicos e ficamos tão presos naqueles outros que nos controlam... mesmo sendo no tempo distantes?

sei que gosto de "para sempre", como se fosse um selo de qualidade no produto, um sublinhar de empenhamento, mesmo que acabe no seguinte instante... ter sido verdadeiro na intenção.

sei que dancei com estilo... triunfante, e os meus para sempre era para sempre mesmo.

nem que fosse por uns simpáticos três minutos.

fui fonte de terno calor, daquele envolvente no pescoço, seguido de um beijo ternurento que diz que tudo vai ficar bem... damos a volta ao marcador na segunda parte...

Algumas vezes era demais, muitas outras vezes igual.

sempre o mesmo desfecho.

algumas vezes dentro de água, olhos abertos...

ou eu sozinho num plano paralelo, e o mundo todo distante.

algumas vezes era a melodia envolvente, mais que a batida...

que me raptava para o fundo da mente, onde ai... agora é difícil encontrar aquela tua deliciosa imagem...

como se fosses diamantes ao sol... e os diamantes... são para sempre.

bom era seres tu ao sol para sempre.

era sempre estranho, aguardando algo que não vem, como quem aguarda e não te vê passar.
(o que até teria uma sórdida, cruel e irónica piada)


ah... para sempre...