terça-feira, 7 de julho de 2015

Surpresa!.



Ela abraçou-o satisfeita, feliz.
Ele sorriu apertado, rodeou-a com os braços e levantou-a um pouco do chão.
- Ela não faz a menor ideia...
Disse depois de o libertar. Encaminharam-se para o elevador, desceram para o cais.
Sentaram-se à espera do comboio que os levaria à estação central de Estocolmo.
Ele mostrou-lhe o telemóvel.
- Está-me a perguntar se já acabou a reunião...
- Disseste-lhe que ias para uma reunião?
- Tinha que justificar as três horas em silêncio.
Ela abraçou-lhe o braço, estava mesmo muito satisfeita por ele estar ali.
Imaginava como ela iria reagir, surpreendida sem aviso, sem anestesia.
Olhou para ele uma vez mais e sorriu.
- Obrigado...
Ele rodeou-a com o braço, puxou-a para o corpo, beijou-a sobre o cabelo.
- Xiu, depois pagas-me... Eu vou precisar de pneus novos para o carro...
Antes que lhe respondesse, Levantou-se no aproximar do comboio à estação.
Ela ajeitou o vestido preto, um pouco desalinhado. Fechou o blusão que era preto também.
- Ainda não acredito que tu...
Olhou pela janela, puxou o cabelo loiro para trás da orelha, onde um fio preto de prata pendia brilhante.
Viajavam de pé.
Ele farto de estar sentado, após tantas horas de avião.
Eram apenas quinze minutos até à estação.
Ela sorria satisfeita.
- Tu tens noção que te condenaste com esta surpresa?, achas mesmo que agora ela te deixa ir embora?.
- Quem te disse que eu queria regressar?, quem te mentiu?.
Ele parecia-lhe diferente.
Tinha os mesmos ténis onde ela entornara meia cerveja, menos de trinta minutos depois de o conhecer.
Os jeans eram novos e a camisa era uma estreia também.
Tinha o rosto por barbear, como sempre, ele já tinha admitido que não era tentativa de ser sexy, era mesmo por preguiça.
O cabelo estava mais curto, era aerodinâmica de verão.
Não conseguia decifrar o que era e tinha que tirar a mente do assunto.
Ele procurava-lhe o azul dos olhos, ela continuava a fugir.
- Está tudo bem?.
Perguntou.
- Eu sonhei contigo anteontem...
- Comigo?.
- Eu estava num palco, num concerto, milhares de pessoas e eu a cantar Roxette...
Cruzou os braços, aguardou que ele parasse de se rir.
- Eu partilho isto contigo e tu...
- Desculpa... Continua...
- Não!, agora não...
Desencostou-se, atravessou a carruagem até à saída seguinte, retomou posição de pé, ao lado da porta.
Ele suspirou, riu-se um pouco mais.
Atravessou a carruagem, pediu-lhe desculpa outra vez.
Ela continuou magoada e sentida, de olhos no passar da paisagem do outro lado do vidro.
Ele chamou-a pelo nome uma vez, chamou-a pelo nome duas, não a convenceu.
Gostava do nome dela, muito.
Dizia-o sempre como se fosse um evento, uma pausa na tempestade, no cair do mar.
Dizia-o para ecoar, presente.
Deslizou com a mão pelo rosto dela, suave.
Sem que ela lhe desse muita resistência, reclamou-lhe a atenção, virando para si os olhos azuis que tinha despeitado, insensível.
- Conta-me... Mas não me assustes, foi demasiado forte...
- Eu estava a cantar Roxette num concerto...
Riram-se os dois.
- E tu... Estavas na bateria...
- Fuck Yeah!, qual era a música?, estava vestido?, diz-me que não tinha calças...
- O quê?...
Não era suposto, mas sim, admitiu que tinha muitas saudades de quando ele a fazia rir, assim, desprevenida com algo totalmente épico, profundamente idiota.
- Não!, estavas vestido e a marcar o ritmo da... Advinha!, advinha qual era a música...
Fitou-a, desenhou no rosto um esgar de vitória a puxar para exageramente arrogante.
- Mas só pode haver uma resposta a essa pergunta... Sleeping in my car!.
Abriu a boca para cantar, ela censurou-o com a mão.
- Sim!, acertaste... Cala-te!.
Não se calou, continuou a cantar-lhe para a mão, com os ombros primeiro, depois todo o corpo.
Ela rendeu-se. A mão libertou-o, a voz acompanhou a cantar também.
Saíram para a estação central.
- Onde vais?.
Perguntou depois de lhe deitar a mão.
- Não vamos de metro?.
- Trouxe o carro, está aqui perto, vamos para casa dela, fazer-lhe a surpresa, mas primeiro vamos comer qualquer coisa e buscar o bolo.
Ele olhou para o relógio, ela ainda estaria a trabalhar por mais umas duas horas, tinham tempo.
Sentaram-se no banco do jardim, cúmplices esfomeados.
- Diz-me que não... Diz-me que não!.
Pediu ela, imóvel, implorando para lhe dissesse que o ketchup com que tinha afogado as batatas do cachorro não lhe tinha caído para o vestido.
- Não...
- Diz-me com convicção!.
- Não!.
- Agora a sério...
- Não te caiu para o vestido... Mas estás a pedir fotografia...
Tirou a fotografia primeiro, limpou-lhe o rosto a pedido depois, ela não queria correr o risco de se mexer e tornar a sorte inicial numa hecatombe.
Entregou-lhe o cachorro. Ela ajeitou-se sobre o banco, abriu as pernas, pediu o cachorro de volta.
Atirou-se a ele inclinada para a frente, caindo-lhe batatas, migalhas e ketchup no chão.
- São magníficos não achas?.
Perguntou-lhe de boca cheia, a mastigar, como um cão de focinho achatado cuja comida é grande demais para ser mastigada dentro da boca.

Findo o repasto, reclamado o bolo.
Ela virou à direita, na direcção de Östermalm, subiu uma mudança na caixa de velocidades, pediu para a deixar concentrar.
- Mas eu estava calado...
- Estás-me a fazer rir!, assim não... Puta!, vaca!, faz o pisca!, "Fan!".
Ele encolheu-se no banco, para a porta.
Ela espreitou-lhe para as mãos.
Tirou-lhe o telemóvel, atirou-o para cima do casaco a repousar no banco de trás.
- Tão engraçado...
- Estava só a ver se o 112 funcionava, se era igual a Portugal...
- É o mesmo, ainda bem que sabes, vais precisar.
Estacionou, carregou-o com o bolo, o saco das bebidas, o saco com comida, o saco com aperitivos e a sua mala. Justificou-se com as chaves, ia abrir a porta, precisava de ter ambas as mãos disponíveis.
Subiram, ela à frente, ele a tentar não dar de fraco uns degraus atrás.
A chave rodou, abriu-se a porta.
Deixou os sacos no chão da cozinha, o bolo no frigorífico, e a mala dela na prateleira ao pé dos iogurtes.
Caiu exausto no sofá.
Ela tirou o blusão, tirou a mala do frigorífico e de dentro desta o telemóvel. Atendeu a revolta da dona da casa, ignorada por todos no dia do seu aniversário.
Pediu-lhe espaço no sofá, sentou-se.
Ele ouvia-lhe a voz do outro lado da chamada, acelerada, demasiado depressa para conseguir entender o que dizia no seu parco sueco.
Surpreendentemente, apanhou-lhe todos os palavrões.
Comer como um pequinuá, praguejar como um marinheiro, era o seu tipo de mulher.
Ela sorriu, deixou cair a mão sobre a perna dele, onde ficou.
- Já falaste com ele hoje?, já te deu os parabéns?.
Perguntou, cruel.
Ele não percebeu, depreendeu na entoação.
Ela mergulhou as gargalhadas no ombro dele, depois de afastar para o tecto o telemóvel.
- Já chega...
Ele pediu.
Ela acedeu, piedosa. Concentrou-se e despachou bruta, sem condescêndencias a aniversariante.
Desligou, suspirou fundo. As unhas dela, subiram e desceram sobre a perna dele.
- Aposto como ela vai de seguida ligar para ti... Ou para a mãe, furiosa e carente.
Segundos depois, o telemóvel dele tocava com a resposta.
Ela manteve a mão firme, mantendo-o no sofá, por levantar.
- Não atendas!, tem mais piada assim...
- Tu... Tu és um monstro!.
- Trago-te aqui no aniversário dela de surpresa... Preparo-lhe uma festa e sou um monstro?.
O telemóvel dele recomeçou a tocar.
- Gosto desta música que tens para ela... "Hold back the river... Let me look in your eyes..."- Cantou - E eu?, já tenho música no teu tele... A sleeping in my car é minha!, não podes, essa está no meu para ti.
Ela espreguiçou-se, espaçosa, sobre e contra ele.
Levantou-se, ligou a aparelhagem.
Desviou o cortinado da janela, espreitou para o carro, aguardando que a música começasse a tocar,  fosse o que fosse que estivesse na aparelhagem.
Ele nunca tinha estado tanto tempo sozinho com ela, só os dois.
Gostava dela, gostava como ela se ria das piadas idiotas que dizia e repetia. Gostava de como mandava abaixo uma cerveja, sorria com comida a transbordar da boca para fora e abria os olhos azuis quando ia fazer uma qualquer asneira.
Gostava do cabelo dela, louro e comprido, fino e brilhante.
Ela virou-se para o sofá, surpreendida, descobriu-o a sorrir.
- Adoro esta música!. - Disse ela, correu para a aparelhagem e aumentou o volume nos primeiros acordes da Last Goobye do Buckley.
- This is our last goodbye...
Fechou os olhos, cantou baixinho para a sala.
- This is our last embrace...
Ele levantou-se do sofá, cantou baixinho para ela, era impossível não cantar.
- Kiss me... Please kiss me...
Ela pediu, virada para a parede, onde a televisão desligada reflectia o deambular dos dois, ao som da música.
Não era uma estreia, dançarem os dois.
Ela não estava de vestido encarnado, ele não tinha os ténis com cerveja, como da primeira vez em Londres.
Era uma estreia não estarem acompanhados.
Ela rodopiou, ele ficou de frente para ela.
Ela avançou um passo, aproximando-se, segurando-o pela camisa com ambas as mãos. Ele deixou as suas aterrarem-lhe na cintura.
O Buckley acelerou, a bateria entrou em crescendo.
- Did you say... No!, this can't happen to me...
Cantaram, um para o outro, perto.
- And did you rush to the phone to call...
No silêncio entre duas notas, silêncio rápido e quase impossível de ouvir, ela lembrou-se do desejo de um beijo não de consolação, mas sim de desejo.
Ela sentiu o desejo, ele, do outro lado, ouvia e dançava a mesma melodia.
"Thinking so hard on her soft eyes... And the memories"...
E o telefone dela tocou, despertando, libertando.
Ele baixou o volume.
Ela atendeu a mãe da aniversariante.
Ele sacudiu a música, o instante curto e fugaz do pensamento.
Tinha sido qualquer coisa estranha do embalo do momento, sim, apenas isso.
Olhou para o carro dela, estacionado lá embaixo, na rua.
Olhou para o prédio do outro lado da estrada, para as janelas, para o telhado, para uma chaminé.
Fitou nuvens e outros telhados ao longe.
Nas suas costas, na sala, escutava-lhe o dialogo na repetição de uma palavra para o telefone:  Överraskning.
Dizia e repetia, sem apaziguar.
- En  Överraskning... En Överraskning.!, uma Surpresa!...
Ela caiu no sofá, deixou cair a nuca no encosto.
Ficou o tecto, gemeu.
A mãe não era sua, mas era como uma filha que a tratava, desde que tinha seis anos.
Podia ter revelado e terminado a repreensão, era só pronunciar o nome dele, ali na sala ao pé da janela.
Tirou os olhos do tecto, olhou para a surpresa em questão.
Teria acontecido, tinha a certeza, total e absoluta convicção.
Vontade e desejo, não por desespero.
Afastou o telemóvel do ouvido, sorriu-lhe, ele sorriu de volta.
- Ajuda-me...
- Diz-lhe que estou aqui...
Ela esbugalhou o azul dos olhos.
Tivera uma ideia.
- Olha...Já não dá mais, tenho mesmo que ir à casa de banho, vai acontecer uma desgraça se não... Vou ter uma diarreia contigo ao telefone e...
Segundos depois desligou, contente.
- O que lhe disseste?.
- Que tinha que me ir sentar no penico...
Suspirou, passou as mãos pelo cabelo, olhou para ele outra vez, do outro lado da sala silênciosa.
A Last Goodbye continuava a repetir e estava cada vez mais alto...
Levantou-se, implorando-se para ficar onde estava.
Ele não se mexeu, estava aterrorizado.
Ela avançou um passo.
Ele recusava-se a pestanejar.
A chave rodou, a aniversariante entrou, magoada, triste, desiludida, abandonada.
Começara bem o dia, tinha sido mesmo bom.
Ele ligara-lhe apressado, mas ligara-lhe mesmo assim.
Declamou-lhe saudades, carinho, vontade de a ver, de estar ali ao pé dela.
E depois não lhe ligou nenhuma.
Não lhe atendeu quando o procurou, não lhe deu a menor atenção, a não ser uma fria e ríspida mensagem a dizer que ia para uma reunião.
Era estúpido ficar tão desconcertada por uma pessoa só.
Não tinha idade para desalentos amorosos de adolescente, mas ele deixava-a assim, frágil.
Fechou a porta de casa e ficou no hall, a olhar para os sacos no chão da sua cozinha.
Olhou para a amiga na sala, acenou.
- O quê que estás aqui a fazer?.
- Surpresa!.
- Eu disse que queria um ponei... Ou pneus novos para o carro...
Da sala, olhou para o hall, olhou para ele na janela.
- Devo ser a única pessoa que tem os pneus em condições na união europeia...
- O que são aqueles sacos?.
- Mantimentos para a tua festa surpresa... Também tens um bolo no frigorifico.
- Agora já não é surpresa...
- Agora já não é muita coisa...
Disse de olhos na janela.
Na janela, ouvia o dialogo sem o compreender, sem a ver no hall.
No hall estranhava-se, desconfiada de tudo, até do papel de parede.
Conhecia aquele sorriso, normalmente, significava acabar a noite a perguntar ao primo Klaus, advogado, das implicações de um alegado crime ou dano material acidentalmente cometido... Curiosidade apenas, não estava relacionado com a alegada amiga do costume.
- O que está a acontecer?.
Perguntou, cruzou os braços.
- Eu vou arrumar a cozinha, preparar as coisas e tu...
Não completou.
Saiu para o hall, beijou-a no rosto, deu-lhe os parabéns e foi arrumar a cozinha.
Olhou para a sala, não entrou. Olhou para o abrir e fechar das gavetas, ao som do resfolhar no mexer dos sacos.
Olhou para o papel de parede, olhou para a porta da sala.
- This is our last goodbye...
Cantou na cozinha.
Ele sorriu, ainda no mesmo sítio, encostado à janela.
Ela entrou na cozinha, fechou a gaveta com a brusquidão de quem vai fazer uma cena.
- O quê que se está a passar?.
- És tão desconfiada... Conflituosa!, és uma pessoa horrível às vezes, se não tivesses esses olhos bonitos e  a tua "Rumpa"... Se eu não gostasse tanto da tua mãe...
Deitou as mãos à cabeça.
- Tu... Tu diz-me que não voltaste a estragar o...
- Isto precisa de música, vai por música...
Rumpa era rabo, essa palavra ele sabia.
- O quê que tu fizeste?.
- Ainda não fiz, estou a tentar montar um jantar para muita gente e tu não me estás a ajudar!, vai por música!, isto parece um velório...
- Da última vez que te vi com essa cara... Tivemos que rapar o pelo quase todo ao gato da Viktoria... Coitado do bicho...
- Ele até que ficou giro com o pelo mais curto...
- Era inverno!.
- É como disse, és conflituosa, não prestas... Mas se queres mesmo saber... Música primeiro, conto-te depois.
Encostou-se à bancada, queria saber primeiro.
- Conta-me.
- Música!.
- Prioridades.
- Vaginas.
- Vaginas?.
- Ah... Pensei que estávamos atirar palavras ao ar..
Reconheceu a palavra Inverno, reconheceu vaginas, reconheceu música, a conversa deles era qualquer coisa de muito estranho.
- Já que não vais por música... Conta-me coisas, como foi o teu dia?.
Perguntou, tirou a tigela do armário, esvaziou dentro desta o pacote dos aperitivos de queijo.
- O meu dia?... Eu...
Interrompeu-a, cantando com a boca cheia de aperitivos.
- This is our last embrace... Must I dream and always... See your face...
Agarrou na aniversariante pelos braços, sacudiu-a.
- Why can't we overcome this wall...
Funcionou.
Conhecia-lhe demasiado bem aquele olhar de desespero no rosto, já o vira tantas vezes, como quando ligava ao primo Klaus, porque apesar de as pessoas não terem provas, teimam em acusar inocentes de algo que não fizeram... Alegadamente.
Saiu da cozinha com o papel de parede a andar à roda.
Ia cometer um crime violento, ia acabar nos jornais e o gato da Vitkoria ia dar por si a pensar que tinha tido sorte.
Olhou para o sofá na sala, olhou para a porta do quarto.
Podia cair no sofá, podia desesperar na cama.
Decidiu-se pelo espaço na cama.
Dois passos depois parou.
Olhou para trás, para a cozinha.
Ela sorria-lhe de bananas na mão.
Reconheceu os acordes da música, os primeiros, tinha-a escutado de manhã, durante o pequeno almoço.
- Como é que tu ligaste...
- Eu?... Tu acusas-me de tudo!...
Era um truque.
Era uma armadilha, tinha a certeza, afinal, ela estava com aquele sorriso e já sentia os cabelos da nuca eriçarem do perigo.
Subitamente, a música parou.
Silêncio.
Subitamente, a música recomeçou.
Ela continuava de bananas na mão, sorridente.
Era do cansaço, era da carência, era da falta de açúcar no sangue, devia ter comido uma das barrinhas de cereais que trazia na mala.
Silêncio.
- Queres uma banana?.
Perguntou-lhe da cozinha.
Explodiu.
Arrancou furiosa e deu com o nariz na porta, que se fechara por segurança.
Bateu na porta.
- Quem é?.
- Quem... Abre a porta!.
Suspirou, com força.
- Abre... A puta... Da porta...
- Quem é?, não vou abrir a porta se não sei quem é...
Estava na sua casa, a bater à porta da sua cozinha.
Subitamente, a música recomeçou.
Virou-se para a sala, onde entrou ainda em fúria.
Caminhou em linha recta até ao móvel para carregar no botão.
O indicador aproximou-se em riste, rasgando o ar como um ariete.
- Olá...
O aríete parou, encostado ao botão, sem o pressionar.
Estava com medo, tinha receio de se virar para a janela.
Não fazia sentido, era um devaneio, uma loucura, impossível.
- Pensei que tu gostavas do Buckley...
Ele desencostou-se da janela.
Ela ouviu-lhe os passos sobre o tapete, aproximando-se.
- Pensei... Que ias gostar da surpresa...
Parou, meio palmo atrás das costas dela.
- Parabéns...
Sentia-o tão perto, sentia-lhe o calor do corpo, o respirar ao passar pelo seu cabelo, para o ouvido.
- Parabéns...
Repetiu.
Beijou-a no rosto, abraçou-a.
- Eu... Eu...
Beijou-a na boca, fugiu.
- Parabén...
Beijou-o.
- Surpresa...
Ela sorriu-lhe nos lábios.
Ele segurou-a pela rumpa, depois dela saltar, abraçando-o com braços e pernas.
Ela beijou-o mais uma vez, sem terminar a primeira.
- O que foi isto?.
Perguntaram ao mesmo tempo.
Ela desceu para o chão, ele abriu as mãos, deixando-a descer.
Espreitou para a sala antes de entrar.
Tinham-na visto, entrou.
- Olha... Ah... Eu estava a arrumar as coisas no lugar e...
- O que aconteceu?.
- Bom, eu estava inocentemente...
- Diz-me o que aconteceu!.
- Primeiro... Afastem-se da janela... Estavam pessoas na rua... E depois... Bom, vais ter que ligar ao Klaus, é que eu tive um acidente com as bananas... Alegadamente.
Klaus, felizmente, era um excelente advogado.