terça-feira, 26 de março de 2013

Por coisas bem menores

Escorregou-lhe o pé sobre o chão molhado e sentiu-se prestes a mandar um violento espalho.
Equilibrou-se sem parar de correr e foi um sucesso, não caiu, mas despenteou a melena.
Atirou-a para trás com um sacudir de cabeça e pensou no quão idiota era tentar compor o cabelo molhado.
Correr de capuz era fútil, estava-lhe sempre a cair.
Podia correr mais devagar, mas isso era gay.
Podia não estar totalmente roto, mas isso era não ser ele.
Chovia com menos intensidade quando contornou a esquina do prédio e mudou de música, já não tinha onde se abrigar, estaria à mercê dos caprichos e inspiração da chuva... mas não era isso que o preocupava.
Sentia-se demasiado gingão, porra para a música. Sentia-se demasiado bem disposto para se concentrar ao que se propusera.
Uma corrida à chuva para organizar ideias. O problema é que lhe estava a saber tão bem correr... sem pensamentos... mas não podia deixar passar daqui, nem um minuto mais.
Abrandou, continuou a passo recapitulando a respiração.
A perna esquerda ameaçou uma câimbra,  recomeçou a correr.
Ele não queria muito saber qual seria a consequência, afinal, tinha sido bem mais idiota por coisas menores e... estava a pensar no problema, porreiro, resoluções involuntárias inconscientes... jackpot.
Pena era nunca serem definitivas.
Mas também... foda-se, que lhe estava mesmo a cheirar a câimbra... não seria errado ficar dogmático na mesma posição eternamente? sim, não era correcto, mas se as coisas se repetiam, se o problema se repetia e sabia que ia repetir... era teimosia, não, pior, era masoquismo... por mais que fosse "d'homem" ver o mundo a arder à sua volta, atirar-se de cabeça e peito aberto aos problemas...

Estava a deixar que fizessem dele parvo.

E isso era xunga.

E tinha um cão todo ensopado a correr ao seu lado para longe do dono.

Virou na direcção do dono que gritava de trela e chapéu de chuva.

Parecia-lhe ser um cocker, não tinha a certeza porque lhe parecia um pouco alto demais. Já tivera um cocker, totalmente alucinado.

Escorregou, conseguiu não cair novamente, era imparável!

Escorregou outra vez e achou melhor piar baixinho antes que acontecesse.

O que depois era irónico, e karma e merdas.

Afinal, a culpa era sua e apenas sua, era essa a resposta ao seu problema.
Sujeitava-se, permitia, que defeitos de outrem fossem imutáveis, era com eles, o permitir que estes o atingissem, esse era o real problema da questão.

Tão simples, tão básico, tão distante que estivera de perceber este tempo todo.

Agora faltava perceber como resolvia a sua posição em relação ao problema, como fechava portas e acessos à sua ensopada pessoa.

Mas num outro dia, que já estava a arrastar os pés e já estava quase a chegar à sua porta.

Meteu as mãos no bolso, procurando a chave para abrir a porta.
Abrandou...

Atrapalhou-se com os fios dos phones e a chave.

Escorregou.

Caiu.











quinta-feira, 21 de março de 2013

Pergunta

Sentados como antes, ela do seu lado da mesa, sempre inquietante, ele sorrindo baixinho, tentando camuflar tudo o que lhe apetecia(lhe) fazer.
Conversavam com entusiasmo, camuflando, camuflando-se nas reais intenções.
Uma mesa de intervalo, enorme mesa de distância.
Ela contou-lhe uma memória de infância, envolvia um jardim e um baloiço de madeira.
Ele contou-lhe que fora roubar maças com o Pai, encontraram também figos e ficaram sentados os dois a comer, ao pé do mar, explicou-lhe que  não comia figos por causa do filme da Cleópatra,  com a Elizabeth Taylor.
Ela pediu-lhe mais histórias, gostava quando por detrás do sorriso lhe encontrava uma certa ternura humana, não que ele fosse distante ou faltasse em empatia, era o inverso, adorava o mundo que puxado o fio estava a descobrir, pelo qual se estava a enamorar.
Com força.
Ela estava feliz, muito, nem se conseguia levantar. Fitou-o e ele calou-se, aguardou observando-a.
- O que foi?
- Olhei para ti agora e... lembrei-me de uma musica do Lloyd Cole, conheces?
- Sim,, claro. Gosto muito de uma música...Are you ready to be...
- Heartbroken?...
- Exactamente! qual foi a música que te lembraste?
Hesitou, hesitou responder, o sacana tivera pontaria a mais no Lloyd Cole.
Ele inclinou-se para a mesa, abriu as mãos aguardando uma resposta, Ela olhou para a mesa, remexeu na colher do café, levantou da chávena os olhos até aos dele. Mordeu o lábio,
- Desculpa, agora não quero dizer.
- Isso... não vale!
- Vamos embora? estamos aqui há... 3 horas!
- Ok...
 Ajudou-a com o casaco, encaixou-se no seu.
Ela tinha ficado estranha, fechada, notoriamente desconfortável e Ele não estava a perceber porquê.
Ficou momentaneamente inseguro, como se Ela lhe fugisse pelos dedos como a areia da praia onde se sentara a comer maças e figos com o Pai que lhe tinha contado.
- O quê que... o quê que te tirou o sorriso? o que aconteceu?
- Tu, tu aconteceste, tu e o cabrão do Lloyd cole.
Parou, parou-a, colocou-se à frente dela.
- Desculpa?
- Não desculpo, não te desculpo porque a resposta é sim.
- Sim?
Beijou-o. Assustou-o. Pensou sempre que seria Ele a dar esse passo...
Sentiu-a a sorrir, finalmente! finalmente sorria outra vez.
- Explica-me mulher, estou confuso...
- Pergunta-me, pergunta-me outra vez...
Hesitou, perguntar o quê?
Beijou-a.
Afastou-o.
- Are you ready to be...
- Heartbroken?
- Are you read to beee...
- Heaaart-broken.















segunda-feira, 18 de março de 2013

Sobre o mau feitio das Mulhe... o Armagedão

" Claro que em termos gerais, era totalmente a favor do Armagedão. Se alguém lhe perguntasse porque andara séculos a interferir nos assuntos da humanidade, teria respondido: Ora, para dar origem ao Armagedão e ao triunfo do inferno - Mas uma coisa era trabalhar para lhe dar origem e outra, muito diferente, para que acontecesse mesmo."

fala do demónio Crawley no livro Bons Augúrios de Terry Pratchett e Neil Gaiman.


quarta-feira, 13 de março de 2013

And the Healing has begun.

Pediu-lhe para parar, para voltar para trás.
Ela estranhou mas acedeu. Atravessou a sala novamente, parou diante da estante de onde partira para a mesa e perguntou-lhe o que fazia a seguir.
Ele limitou-se a sorrir.
Ela colocou as mãos na cintura, suspirou. Abriu os cortinados da janela diante do sofá onde ele estava sentado, ficando desenhada a sombra sobre o chão.
Ele surpreendido primeiro, deliciado depois, subiu o olhar da sombra para o corpo dela.
A luz invadia a sala e devassava-lhe o contorno do corpo pelo vestido.
Subiu-lhe pela curva suave da perna em sombra, passando sem lhe perder a carne, o corpo de uma perna para a outra e imaginou-lhe o sabor da pele, o calor...
Levantou-se, ela perguntou-lhe onde ia.
Avançou e inspirou-lhe o pescoço sem lhe tocar, perguntou-lhe pelo nome, pelo signo e deixou-a a rir atrás de si.
Encontrou o álbum na estante, parou a música e contou a  faixa que procurava.
Não lhe respondeu, quando ela lhe perguntou o que ia por a tocar.
Arrebatou-a, puxou-a para si, subindo-lhe pelas pernas para o rabo, elevando-a para o seu colo.
Ela rodeou-lhe o pescoço com os braços, o corpo com as pernas, encaixando-se.
Levou-a para o mesmo sofá de onde lhe contemplara o contorno do mesmo corpo que tinha agora colado a si.
Quente, presente.
Ela tinha aquele seu vestido encarnado de verão que ele, sem estragar despojou de alças, de recheio interior.
Ela reclamou-o para si, reconheceu a música e sorriu.
Ele deslizou a língua pela avenida dos lábios dela e disse-lhe baixinho:

" Were gonna stay out all night long
Were gonna dance to the rock & roll
 When the healing when the healing has begun
Baby just let me ease on a little bit, dig this backstreet jellyroll"

E ela respondeu-lhe que ainda faltava muito para o final da música.

sexta-feira, 8 de março de 2013

Dia da mulher

Porque eu tenho a sensibilidade de um calhau- mas sou um romântico...

Porque acho uma idiotice o dia da mulher - mas sou um romântico...

Porque acho que uma mulher se atur... ama todos os dias...

É velhinho, mas pronto, aqui fica.






E como é o dia da mulher, carreguei na opção - extra largo - no que toca ao tamanho da foto..


segunda-feira, 4 de março de 2013

Despedida de Solteira

Anos atrás, antes de ter acesso em casa a 28787345363825.2 jogos de futebol por dia, tinha o hábito de ir com meu Pai para um café - Espaicafé - em Telheiras ao pé de onde moro que possui uma zona permanente de café e outra de restaurante.

Numa noite de pouco movimento, estavam quatro pessoas a ver o jogo na zona de café e um grupo de cerca de 8 mulheres na secção de restaurante numa despedida de solteira.

Sento-me com o meu Pai e poucos minutos depois, a noiva e uma amiga aproxegam-se à nossa mesa...

- Olá boa noite- diz a noiva - eu vou-me casar e... estou na minha despedida de solteira... e... e... elas, as minhas amigas obrigam-me a dar um rebuçado destes a toda a gente no café - levanta uma caixa transparente com uns mini rebuçados em forma de pénis.

A moça que se ia casar sacode a caixa e tira um, dá ao meu Pai.

Volta a sacudir a caixa para mim e nada, tenta outra vez... e nada... sacode com mais força uma, duas, várias vezes, pede à amiga e nada, volta a agarrar na caixa já vermelha que nem um tomate nesta altura e eu interrompo:

- Olha, obrigado por antecipação, parabéns pelo casamento e faço sinceros votos que te corra melhor na Lua de mel do que está a correr agora...