segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Fuga para a vitória...

-É mesmo verdade o que me dizes? - perguntou, receou e agarrou-se à esperança de uma resposta que sabia não ir obter
- é mesmo verdade, era mesmo ela... mas olha, dou-te uns minutos, ficas aqui uns minutos e eu espero por ti lá embaixo, pensa no assunto... dá um jeito na cabeça e falamos quando tiveres melhor o que achas?
Abraçou o amigo. fechou a porta atrás deste e desligou a luz da sala. aproximou-se da aparelhagem e subiu o volume até sentir ser o suficiente para se desligar do espaço que o envolvia...
sentou-se no escuro. estava acima de tudo confuso, muito confuso. Era fruto da necessidade de compreender toda a situação e tal parecia-lhe impossivel. Ligou-lhe, como antes quase certo de que era um erro. não lhe atendeu... isso já não era original.
Tentou chorar, tentou com vontade e nada. Outra vez nada. nem esse alivio conseguia... era esmagadoramente mau para ser tudo dele, tudo para uma pessoa só aguentar sozinho.
Suspirou. passou os dedos entre o cabelo e desenhou um sorriso no rosto, afinal, outra vez, outra noite e outra vez no mesmo sitio, mesmo problema...
de que lhe valia tanta mudança, tanta coisa que agora percebia e compreendia, tanta noite mal passada e tanta luta... sim, porquê tanta luta para agora estar tudo na mesma, ou pior...
Era inegável que era pior, afinal, desta vez sabia que fora mesmo fora do seu controle, e isso era muito muito frustrante. não era suposto já que não dependera de si ser agora mais facil? ser agora mais simples de lidar e compreender a situação? mas não.
Longe disso.
O que fazer agora? o que fazer para mudar a situação? o que fazer para que as coisas estivessem realmente bem, não necessáriamente o bem de uma perfeição sempre ilosória - como as coisas perfeitas o são - mas o bem de as sentirmos bem e termos uns quatro, cinco segundos de paz, de pura paz. Não sentir aquela angustia de que algo não esta no sitio certo, que não há nada a magicar longe de nós em conspiração contra as nossas coisas boas... sim, porque são as nossas coisas boas que estragam primeiro, as pequenas e deliciosas coisas boas...
olhou para o telemóvel e riu-se - "podia ser pior e seres do sporting... continuo aqui embaixo à tua espera mas sem pressas...", era um bom ponto de vista.
Já estava tão cansado de abrir a boca para desabafar tanta coisa triste... mais do mesmo.
Deriva, estava à deriva sem Porto ou rumo para onde ir.
Porquê continuar com histórias e ideias que não o levariam a lado algum? e o que tinha que a algum lado o leva-se? nada... Nada! e porquê? porquê que não havia nada ou em si ou no pouco que tinha que resolvesse as coisas todas de uma vez? porque que não era de si que dependeria o sair do sofá e estar tudo bem? porquê que não parava de uma vez com o zapping entre ideias todas elas tão... más para si? já não o sabia como fazer.
É muita coisa a mais em tão pouco tempo.
Por fim resignou-se. Desistiu finalmente. Não de tirar de si as ideias, as certezas sobre ela que o destroçavam, mas sim de lutar, de querer, de procurar alguma coisa ou algo que tornar-se as coisas diferentes, melhores ou menos más, de encontrar os quatro a cinco segundos de paz, desistiu e instantaneamente à sua volta tudo acalmou.
Deixou no instante de sentir a cabeça pesada, de sentir o aperto que tornava dificil até respirar, não estavam bem as coisas, mas não havia nada mais a fazer.
levantou-se. acendeu a luz e arranjou-se diante do espelho sem se fitar nos olhos por desconforto - ou vergonha... qualquer uma delas serve.
abriu a porta de casa e aguardou pelo elevador. ia manter tudo para si, em silêncio. a quem dizer o que decidira? a quem dizer - desisti de mim? como fazer entender que era a melhor e única solução viável?
Vamos manter em segredo o fogo que nos consome, manter em silêncio como todas aquelas coisas de nos deviam ter sido ditas e não o foram - ou por capricho ou... bem, apenas por capricho diga-se que eram bem simples e nada dificéis de dizer, isto entre pessoas de bem, o que não era propriamente o caso dela...
Não tinha as respostas que precisava e devia ter, não tinha as ideias no sitio onde as devia encontrar, não tinha planos ou o que quer que fosse em perspectiva para esboçar um sorriso, tinha um nada, um nada mau e bem confuso.
Em conclusão pensou em que sentido fazia arrastar a sua carcaça vazia em esforço? era isso mesmo que ia resolver, era mesmo esse arrastar que ia por fim, era um fim definitivo e final, finalmente o fim.
E isso... era a única, a única coisa que ainda dependia apenas de si, e ia agarra-la com as duas mãos com força, com vontade mesmo. Ia ser como não era à muito tempo livre, livre e em paz, sem todas as coisas que o deformavam agora, que o destroçavam cada dia um pouco mais, respirou fundo e acenou ao paciente amigo ainda à espera, ia ser em segredo, mas ia ser.
Em breve, muito em breve, não mais que uma semana, para ter tempo de mais um ravioli, mais uma ida ao cinema ou mais uma ida ao miradouro ao fim do dia e uma outra ou coisa mais e pronto, tava despachado e pronto para partir. Era bom esta certeza agora, reconfortante... era uma fuga, talvez lhe chamem covarde por desconhecimento... mas era uma fuga para a os quatro a cinco segundos de Paz... uma Fuga para a vitória.

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