- Tens uma inquietude na voz... não te reconheço, estranho-te...
- É uma questão de banda sonora, hoje acordei com o nascer do dia. Fiquei surpreendido com o seu tom de vermelho, tinha um travo a ouro... que encontramos na areia... lembraste? na praia no dia em que choveu
- Na véspera da manhã em que acordei e já te tinhas ido embora?
- Sim, esse tom d'ouro.
Fiquei um continuo instante quieto, como se respirar não tivesse som.
- Mas isso é bom... no entanto... a tua voz vagueia, tu agora não estás aqui, estás n'outro qualquer lugar que eu não sei.
- Talvez, talvez um mergulho em que o corpo afunda e a mente se dilui, se perde no vazio, onde somos inteiros e sós. Somos nós somente e não nada do que nos rodeia.
Reencontramos-nos de certo modo.
- Isso em ti pode ser tão bom...
Encontro-te assim. Preocupo-me...
- Mas sabes que sou eu... Inteiro.
- Nada teu exageras ou excluís, mas falo de algo teu que não encontro...
- Perdeu-se ou está ausente?
- Diz-me tu...
- Não sei, não sei o que te responda... mas fica aqui comigo mais um pouco, fica e vencemos por um bocado a imensidão que nos envolve, abrigados em refúgio, um no outro... os dois.
- Está bem, fico contigo.
- Obrigado...
- Posso encostar-me no teu ombro?
- Sim, gosto de te sentir presente.
- Dizes-me mais uma coisa?
- A música?
- Não... já a decifrei...
- O que queres saber então?
- Vai correr tudo bem?
- Não, mas nós vamos estar bem.
É indiferente se tudo se desfaz em pó, nós estaremos bem.
Isso é o importante.
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