sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Woof Woof...


Sempre que a vejo esponjada, concentrada no acto de não fazer um cu admiro-lhe o estilo, a técnica e o ressonar.

Daqueles ressonares que batem forte, que põem qualquer um em sentido- porra, ela tá mesmo a dormir.

Tantas vezes, ela ressona de olhos abertos e no gesto, no pensamento da intenção de a tirarmos de onde está a dormir ....

Ela ressona mais alto.

E eu lembro-me da primeira vez que dormiu ainda uma miniatura que cabia na palma da minha mão e não o mastodonte preto acima dos 45kg - que adoram adormecer sobre as minhas pernas- comigo, na enorme cama de casal da minha irmã na casa de praia no alentejo...

Lembro-me de acordar com ela a mordiscar-me o nariz, vejo-a sair dos lençóis e patusca caminhar aos tropeções até à outra ponta da cama, agachar-se - era tão fofa!!!! - e mandar uma brutal mija na cama da minha irmã.

Foi a primeira vez que me fez rir à gargalhada.

Mais tarde, já um colosso de preguiça, a elegância com que me empurrava para fora da minha cama, quer com o corpo quer com aqueles olhinhos de puppie que rebentam qualquer defesa ou vontade de resistir aos seus desejos - 99% das vezes por qualquer coisa que eu ou alguém estivesse a comer.

Fico orgulhoso pela sua indiferença às pulgas que lhe ladram furiosamente do outro lado do passeio.
Histéricas, criaturas minúsculas que o pelo não deixa ver de imediato onde se metem as pilhas...
E ela ignora... whatever... até que qualquer coisa lhe é dita nos Woof woof's histéricos da ratazana...

Ela pára, ela olha... - WOOF !!!

E a criatura foge.

Deslizo pela sua nuca sentado com ela na cadeira do veterinário.

Ela tem um fio de baba grosso da boca até ao chão, quase meio metro de baba...

Ela treme, ela tá farta de veterinários e olha-me com um - tira-me daqui que me parte o coração.

Ela deita o focinho na minha perna e a baba enrola-se como se fosse cola nas calças, eu faço-lhe uma festa, coço-lhe atrás da orelha como ela gosta ela vira de prazer o focinho, soltando o fio numa outra direcção...

Sobre a minha outra perna...

E eu ali a sentir-me tão desfeito sem lhe poder dizer...

Sinto-me tão a quebrar, tão prestes a não me conter...

Mas vejo uma ratazana de trela, saltitão de mau feitio - mesmo a pedir-las.

Ele entra no veterinário, altivo e com pilhas novas, a Iris suspira e de sentada deita-se no chão- sobre os meus pés...

Com baba...

Ele pufa um latido... woof?

A Iris levanta-se, coloca-se de quarto, gira o focinho e...

- WOOF WOOF THIS MOTHERFUCKER!!!!



Nota - Não sou de desabafos emocionais...

...estou de coração partido ao vê-la no chão do meu quarto a dormir enquanto escrevo isto sabendo que nada há a fazer senão esperar que passe o tempo.

Podemos gostar mais ou menos de uma pessoa, simpatizar, achar mais ou menos graça, mas de um cão... é amor.

(ponto)

Nenhum comentário: