quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

1935

Estava em silêncio há 10 minutos, exasperava e desenvolvia uma relação de desconforto com a cadeira enquanto o ouvia para sua frustração falar empolgado, a voz descer o tom e descobrir nele algo nunca antes escutado em todo o tempo... anos que estavam juntos

ele estava emocionado...

- Não... não não e não! NÃO PORRA, Juro que me apetece bater-te... tu ás vezes crias em mim impulsos violentos que... merda para ti tou farta, tou farta de tar à tua espera, à espera que sejas um gajo decente e deixes cair essa tua máscara machista idiota que só me irrita... só me dá raiva... faça o que fizer... e não podes, não admito que tu...

agitou as mãos negativamente, fechou o casaco levantou-se para partir sustendo o movimento quando o viu capturar refém as suas chaves de casa, não podia ir a lado nenhum

- mas o quê que eu te fiz agora?? onde é que tu vais? o que se passa?

- o que se passa?- sentou-se- perguntas o que se passa? tens noção do que acabaste de fazer?

- de responder à tua pergunta...

- não estupor... a pergunta era...

- e eu respondi-te... eu estava a responder...

Passou os dedos pelo cabelo, suspirou. Fitou o tampo da mesa e depois os olhos confusos que aguardavam uma explicação

- eu sei... eu sei que ai dentro no fundo... atrás dessas camadas e camadas, eu quero acreditar que ...

- ou sabes ou queres acreditar?

fitou-o irada, fechou a mão e deixou-a bater na mesa

- foda-se...

-olha a linguagem... é suposto seres uma lady... até fazes o mindinho style a beber café

- devia-te ter deixado cair ao rio e não te ter tirado de lá

segurou-lhe as mãos nas suas, estavam consideravelmente mais frias que as dele como era normal, anormal o gozo que lhe descobrira de as enfiar gélidas entre a sua pele e a roupa sem o avisar.

- olha,diz-me... diz-me o que fiz, explica-me o que fiz agora para eu não voltar a fazer

retirou as mãos e cruzou os braços contra o peito

- o que te perguntei?

- pediste-me para ter contar um momento emocionalmente forte que me lembrasse...

- o que me respondeste?

- final Intercontinental Porto- Once caldas...

- e isso é resposta?

- para mim é! gajas vão e vêem, o clube... o clube acompanha-nos desde... olha, a mim desde que me lembro, foi intenso e importante e...

- estás a dizer que eu vou ser...

- não! qual é o problema de te contar a história?

- eu quero... quero que me mostres o teu lado sensível...

- hey! no homo! nada de gayzices...

- ... o teu lado romântico, o teu lado que eu amo. Não precisas de te esconder comigo, eu não te vou magoar, não te escondas... eu vejo o que me pintas, como me tocas, como dizes certas coisas tanta vez e depois... depois disfarças como se isso fosse estranho, como se tivesses vergonha... tens vergonha de mim? de namorares comigo? é isso? tens vergonha que eu seja a tua namorada???

- pelamordedeus... eu a isso nem te respondo... pediste-me um momento e eu respondi, se querias um discurso... se querias que te citasse o Romeu e Julieta.. primeiro não sou fã da historia, mas sim da música, dos Dire Straits... Sou fã de a ouvir e lembrar-me de ti quando oiço- i cant do everything...
but ill do anything for you...
i cant do anything... except be in love with you...
lembrar-me de ti e ficar frustrado por não saber o que te dizer ou fazer para que me algemes novamente... e não, não te ponhas com ideias, foi apenas e somente um exemplo, mas que te faça gostar de mim e me deixes tocar-te na ponta do teu cabelo, nas tuas coxas quando me abraças e me leves a descobrir qualquer coisa perfeita para te dizer e fazer ficar comigo... e eu não consigo eu não sei, estou longe de ser perfeito e saber inventar o encadeamento de palavras certo para te conquistar...

abriu a carteira, retirou um calendário, deslizou-o para o lado dela da mesa

- os meus avós namoraram 16 anos, em 1935 o meu avô teve que ir para longe, não me recordo se para o porto ou ou seja para onde for, estava longe... ele cortou neste calendário os dias em que ia escrever à minha avó e foi o que fez, sem falhar durante um ano...
eu trago isto comigo para todo o lado porque acho simplesmente delicioso olhar para este calêndário...
eu não sei o que queres de mim... que gesto romântico ou frases poéticas queres que te diga ...
eu não sei como te fazer acreditar que é real e enorme em mim o que sinto por ti...

saltou sobre a mesa e beijou-o, amarfanhou-lhe a roupa, despenteou-o... sorveu-lhe os lábios e sussurou-lhe- amo-te porra...

fechou a porta do café e ajeitou a roupa, deixou que o beija-se novamente

- queres vir jantar a minha casa?? pleeease, diz que sim...

- oh... não posso, sabes que já combinei com o meu pai hoje...

largou-lhe o cachecol e colocou as mãos nas ancas- não podes adiar? hoje deixaste-me... quente

- não... eu queria, mas não dá... amanhã.. .amanhã combinamos cedo, eu venho ter contigo e...

- deixas a tua gaja assim? a precisar de ti desta maneira ?

- o meu pai pediu-me há uma semana, não achas que não queria estar contigo?

abraçou-a, suave e com força depois.
abraçava-a e controlou a informação no relógio
disse-lhe que tinham mesmo que se despachar...
beijou-a novamente na porta da rua, e outra vez na viagem do elevador.
fugiu-lhe dos braços que o puxavam, repetiu que tinha mesmo que ir

entrou no carro

voou até casa, correu pela rua e subiu pelas escadas na rapidez do tempo que se escoava.
abriu a porta de casa, atirou o casaco para a cadeira e saltou para o sofá onde o seu Pai o aguardava

- então? quem é que tá a jogar melhor? como é que o Porto ainda não tá a ganhar a estes gajos?? foda-se que perdi os primeiros sete minutos...




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