sexta-feira, 30 de novembro de 2012

O Nariz

Estava desconfortável.
Tropeçou na fotografia dela e ficou.
Ficou a olhar para a imagem dela durante meio minuto, mais segundo menos segundo e nada.

Ficou à espera de uma reacção, de uma resposta qualquer e... zero, nada, vazio.
Aguardou e começou a estranhar-se, caramba, era suposto... anos depois ao rever quem durante tantos anos... mas não.

Irritou-se, irritou-se pela sua indiferênça.
Era uma criatura teimosa, o resultado foi procurar sôfrego uma outra imagem dela, quiçá um resultado diferente.

Encontrou, era uma imagem diferente... mas teve o mesmo efeito.

- Bem, e se for outra pessoa?

Remexeu e encontrou, uma outra, também distante, também anos atrás.

E novamente, irritante, a mesma não reacção, a mesma indiferença.

Procurou outra e o mesmo efeito.

Procurou uma outra e decidiu-se a mudar de conceito.

Vasculhou um álbum antigo de família, revendo quem perdeu de morte, quem perdeu porque simplesmente a família se afastou.
Melhorou, encontrou uma melancolia nos que lhe morreram, mas não era o suficiente.

Levou as mãos pelo cabelo, frustrado, quase em desespero, mas lhe remoía a sua não reacção.

Experimentou com música de fundo, experimentou com aquele livro antigo que uma delas lhe dera para talvez com o cheiro...
Talvez isso lhe acordasse o subconsciente e o levasse a reagir como um ser humano normal...

Mas também não.

Desistiu, rendeu-se e voltou ao quarto.


Tacteou pela parede, procurando trazer luz ao quarto que o fim de dia deixava vago.

Ainda não era noite, perto.

E foi então...

Distraído...

Que tropeçou na sua imagem e lhe viu o nariz...

E Sorriu, sorriu e riu e deu por si finalmente, para sua surpresa perante tão inesperada imagem dela, perante um simples detalhe no rosto que era o que o fazia reagir, emocionar-se, sentir-se vivo e um ser humano inteiro...

(mais ou menos normal)

Perante tão majestoso nariz, finalmente, uma reacção.

Oh... e que nariz!


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