segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Maxine

Estava a olhar para o telemóvel com a certeza que ia dar merda.
Estava a olhar tentado cheio de ganas e vontade mas sabia, tinha a certeza que ia ser um erro.

Depois visualizou uma hipotética lápide onde estaria escrito - "Aqui jaz um homem sábio e ponderado" - e isso não era minimamente o que queria deixar de legado aos netos e filhos.

- Que se foda! - disse e marcou o número da Ex.

Tinha a convicção que não lhe ia atender.
Tinha também a convicção que ela era capaz de não resistir à tentação e atender.

- O que me queres? - ouviu, atendeu.

- Olá, estás boa?

- O que me queres?

- Olá para mim também...

- O QUE ME QUERES?

- Saber de ti, lembrei-me de ti...

- Porquê que queres saber de mim? nem sequer me deste os parabéns...

- Também não me deste os parabéns a mim...

- Eu fiz anos primeiro! e responde-me, o que me queres?

- Lembrei-me de ti, só isso.

- Porquê que te lembraste de mim?

- É uma história relativamente comprida, diz-me só se estás bem...

- DIZ-ME!

- Estava no café onde te levei quando fomos à baixa, sentado na mesa de canto que gostávamos porque ficamos perto um do outro, a meio caminho a estarmos de frente e lado a lado.

- ...

- Entra-me pelo café adentro... alta como tu, morena como tu, digo-te, não eras tu mas podias ser mesmo tu...
Devias ter visto, a maneira como ela bamboleava as ancas como tu... como parava a sala ao passar dentro do seu  blusão preto como o teu que te comprei...
E ela vinha com o namorado atrás, sentou-se e cruzou os braços como tu.
Devias ter-lhe visto os olhos, o cabelo, o sorriso, juro-te que não eras tu... mas podias ser mesmo tu...
E quando ela  afastou a chávena dos lábios e lambeu devagar a espuma com a lingua... eu digo-te, não eras tu... mas porra, podias ser mesmo tu...
E depois ela esticou-lhe o dedo, ao namorado, bem diante o nariz, como tu...
Oh, devias ter visto, ela começou a dar-lhe na cabeça empolgada, por isto, aquilo e mais qualquer coisa que atirou para o meio da confusão e caramba, parecias mesmo tu...
E devias ter visto, a sério, ele tão confuso como eu, sentado naquele café a levar nas orelhas de uma mulher que eu digo-te... podia não seres tu... mas parecias mesmo tu...
Estou? estás ai? foda-se, desligou-me...

Sorriu, encolheu os ombros e retomou os afazeres que o ocupavam pré-chamada para a ex.

Vibrou-lhe o telemóvel sobre a mesa avisando-o que recebera uma mensagem.

- ok, isto pode ser interessante... - disse ao ler o nome da Ex no cabeçalho da mensagem.








- "não queres ir tomar um café quinta?"




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