Estremeceu, arrepio de prazer na pele dos ombros às mãos.
Fechou os olhos encadeado pelo sol, aninhou a mão esquerda no bolso do casaco e a direita na trela.
Sentiu que o puxava ansiosa para andar, puxou o braço em sentido inverso, a rua era demasiado longa e inclinada a subir para aventuras ou passeios em velocidade.
Tantos anos, tantos dias neste intervalo de tempo sem preocupação.
Deu-lhe uma palmada no lombo, empurrou-a com o pé... agora perdida num ataque de preguiça e ternura.
Convenceu a cadela a caminhar ao seu lado com um curto assobio e um estalo rápido com a boca.
Aparentavam do alto da rua ser uma debandada de gado em fúria, descontroladas de botas e vestido primaveril, ruidosas e descoordenadas entre si no passo.
Fitou os olhos do animal que suspirou ante tal cenário, aproxegou-se e encostou o corpo às pernas do dono que se chegou à beira do lancil para deixar passar a turba.
Contou-lhes o numero, sentiu a cadela sentar-te junto aos seus pés, fitando a procissão, sentiu o canideo suspirar, nem um cão, mais fiel das criaturas terrestres , tem paciência e pachorra para mulheres em números acima do singular.
Sentiu uma mão tocar-lhe no braço, puxar-lhe a mão do bolso do casaco.
Virou o rosto e viu-a como as outras... primaveril...
Tinha o cabelo solto no acaso do vento, tinha na dele a sua mão.
Encostou o peso da cabeça no ombro dele, despejou em suspiro a respiração.
Vagueou pelo peito dele a mão que tinha livre, palma aberta sem direcção sobre a roupa.
- Esta trela é capaz de lhe estar a aleijar no pescoço... - disse e largou-o.
Ajoelhou-se ao lado da cadela que lhe lambeu em reconhecimento as mãos.
Afagou-lhe as orelha, soltou a fivela da trela.
Afagou-lhe o pelo amassado do cabedal.
- Anda, vamos que é tarde e ainda nos falta um pouco...
- Achas que ela nos segue assim facilmente? já está sentada e em descanso, está ao sol...
- Sai ao dono, fotossíntese é para ti um assunto sério...
Puxou-o pela mão, a mesma que ela requisitara ao chegar.
Seguiu o sorriso dela sobre o ombro.
Seguiu a roda do vestido dela.
Seguiu-lhe o contorno do corpo dentro do tecido, a alça que acidentalmente caiu.
Ele seguiu-a, sem dizer nada.
A cadela seguiu os dois.
Nenhum comentário:
Postar um comentário