quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Shake it up

Não estava propriamente a gostar do livro mas gostava do ambiente do mesmo.
Gostava da ideia da viagem, do largar tudo e partir.

Gostava disso e da ideia de si mesma sentada, distante e ausente, perdida no livro.
Gostava de naquele momento não se ter presente na força de todas as suas duvidas e receios de um futuro que não fazia a menor ideia do que ia ser...

Como um "fortune cookie" dos filmes...

Ou uma piada dele quando esbugalhava os olhos antes de dizer asneira.

Já estava outra vez fora do livro a pensar no seu ser presente, existente.

E ela que gostava tão mais do seu ser imaginário...

E aquele jardim era tão porreiro, a árvore tão presente e compreensiva no seu jeito estático de...

Parou o que ia dizer, o que havia uma árvore de fazer que não fosse estático?

Agitar-se ligeiramente com o vento...

Bateu o livro e suspirou-se, que porcaria de capacidade de concentração, devia um destes dias quando lhe pesassem menos as aulas focar-se e dar um jeito no assunto.

Olhou para a capa do livro, deslizou a mão sobre a mesma.

Dava-lhe mesmo um jeito do caraças ele ter-lhe enviado um livro em português.
Estava demasiado enferrujada com a sua própria língua.

Sentiu que era o momento de partir, regressar a casa.

Afastou da árvore onde a encostara a bicicleta.
Atirou para o cesto no guiador da mesma o livro e enrolou sobre o ombro o longo cabelo que ele lhe desfiara com a ponta dos dedos, sentados meses antes na relva dos jardins da Gulbenkien.

E ela agora ali tão distante...

Em Oxford... sem ele, sem graça, sem brilho.

Sentou-se, empurrou o pedal.

Suave e silenciosa acelerou mas sem grande pressa.

Parou quase se esquecendo de firmar os pés no chão para estabilizar a bicicleta.

Retirou o telemóvel do bolso das calças e para sua surpresa... era dele a mensagem...

- "hey! lembrei-me de ti...Shake it up... Florence... pensa nisso e espero que esteja frio ai!"

Sorriu.
Voltou aos bolsos das calças e puxou os phones.

Procurou a música, aguardou.

Arrepiou-se quando ouviu "Regrets collect like old friends"

Arrancou retomando o seu caminho.

Caminho que cantou em voz alta e a gosto:

It's always darkest before the dawn...


And I've been a fool and I've been blind
I can never leave the past behind
I can see no way, I can see no way...

Largou o guiador por uns segundos... deixando-se flutuar.

Shake it out, shake it out...
Shake it out, shake it out...






Um comentário:

Hathor disse...

Nem imaginas como me revi neste teu post....
Já me pus a fazer o download da música....
As vezes acho mesmo que devia mandar tudo para o espaço e viajar, viajar, viajar....