quinta-feira, 14 de julho de 2011

Unha

Apertava a camisa quando a ouviu gritar.
Sem hesitar lançou-se na direcção da casa de banho e viu-a sentada sobre a sanita agarrada ao pé.

- Sai daqui, ainda não estou arranjada!

Desviou-se da escova que voava contra si e voltou-se para o quarto

- Espera... putademerdafoda-se, ajuda-me a levantar... eu queria fazer a entrada com impacto no quarto...

- E acabaste por fazer o impacto na casa de...

Sentiu as unhas cravarem-se pelo tecido da camisa no braço.
Calou-se.
Rodeou-lhe a cintura e levantou-a. Virou-lhe o corpo para o espelho e sorriu.
Beijou-a na face e deslizou a ponta do nariz dai para o cabelo.
Beijou-a no pescoço e levantou-a pela dobra dos joelhos, segurando-a ao colo.

- Estás a fazer??

Não respondeu, actuou. Levou-a ligeira e determinado para o quarto, deitou-a suave na cama e afastou-se. Ficou de pé.
Via-a sobre a cama recheando o vestido preto.
Apoiada nos cotovelos projectando o peito na sua direcção... e o decote a pedir convívio, o cabelo negro solto sobre os ombros, o tecido em pregas sobre as pernas...
Ela gemeu, dobrou uma a perna e manteve a outra esticada na cama levando o tecido a deslizar, a cair devagar, descobrindo-lhe a carne...
Não resistiu.

Atacou.

- Saaaaaaaaai de cima de mim! não temos tempo... eu quero chegar... não, sai!! sai de cima de mim porra!

Afastou-o com o pé e deixou cair a cabeça na cama. Levou as mãos ao rosto e desabafou um - o meu pé...

Sentou-se na beira da cama e devagar, com ternura, levantou-lhe a perna colocando-a sobre a sua.

- Isto está... doi-te muito?

- O quê que tu achas sua besta foda-se, tinhas que querer fazer sexo comigo quando estou debilitada??? quando estou magoada...

Levantou o tronco da cama e ficou sentada, afastou o cabelo do rosto e fitou-o.

- Há que aproveitar as fraquezas e incapacidades de fuga para... oh, desculpa...

Limpou-lhe a lágrima com o polegar, devagar e com cuidado para não borrar o rosto com o preto da maquilhagem.

- Não te queria aleijar...

- Não aleijaste... está-me é a doer... bati com a merda do pé na puta da quina da puta da bancada foda-se.

- Adoro quando falas assim... classy.

- Vou ter que cortar... isto lascou... está a enfiar-se na carne merda... e os sapatos são abertos à frente... já não vou, não quero ir, quero... foda-se, que estúpida! já não vou, podes tirar os sapatos.

- Não sejas parva, óbvio que vais, cortas isso e...

- NÃO FODA-SE, DOÍ-ME E VAI-ME DOER SE CORTAR!

Voltou a levantar-lhe a perna e colocou-a sobre a cama, levantou-se.

- Onde vais? não me deixes!! não vais sem mim! anda cá foda-se que tou com dores dar-me mimo!

- Já vais ver.

Percorreu a distancia da cama até à sua mochila. Vasculhou os seus pertences e encontrou o que procurava. Retirou a bolsa preta e sentou-se novamente na cama.

- Estás a fazer???

- Já vais ver...

Abriu a bolsa, tirou o gel para a barba, a gilete e o pente, remexeu e tirou uma tesoura de ponta curva.

- Não sei para quê que trazes as coisas para a barba se nunca a fazes ooooOO que é isso????? estás a fazer o quê? estás louco? guarda essa merda! já te disse que não vou...

Rodeou-lhe um pouco abaixo do joelho a perna com o braço, puxou-a para o apoio da sua perna.

- Pára! nem te atrevas! não te atrevas foda-se, eu mato-te, eu juro que te mato!

Rodou ligeiramente a cabeça para trás, por cima do ombro e desabafou-lhe um sentido- gosto de ti.

Firmou o braço quando a sentiu fugir, não lhe deu espaço para floreados e manteve-se firme.

- NÃO!NÃO NÃO! TÁ-ME A DOER! TÁS-ME A ALEIJAR!NÃO!MERDA!NÃO! PÁRA NÃO FODA-SE! NÃOOOoooo me estas a tocar...

Girou novamente a cabeça para trás sem conseguir falar ou parar de rir.

- Se tu me magoas... eh pá André, se tu me magoas... foda-se, eu juro que se me magoas... não magoas pois não? eu gosto de ti, não me ias magoar... se gostas de mim...

- Eh pá, mas tu tás calada? posso fazer o que tenho para fazer e resolvermos o problema sem ameaças e tantos palavr...

Aproximou-se e puxou-o para si pela camisa até ficar perto o suficiente para ter a certeza que lhe recebia a determinação das suas palavras

- Se tu me aleijas eu juro que dou cabo de ti foda-se...

Beijou-a no nariz e deixou-a indignada pela sua indiferença...

- Se tu me aleijas... não dormes comigo hoje, nem amanhã e juro que não me tocas até... até...

- Não preciso de dormir contigo para ter sexo... e não, não tou a falar de ter sexo com outras gajas, não precisamos é de o fazer na cama...

- olha foda-se, larga-me a perna... deixa-me sair...

Virou pela terceira vez a cabeça para trás e sorriu- eu não te aleijo, prometo.

Afrouxou o braço e não a sentiu fugir. Aninhou-lhe a perna para que ficasse mais confortável e suspirou.

- Ai... Ai... AI!!! tá a... ainda não estás a tocar? eh pá, corta isso de uma vez porra! não, espera, devagar... oh foda-se... isto não me está a acontecer!!!

Ignorar-la, era a melhor opção. Firmou-lhe o pé e reconheceu 7 dos 10 palavrões que ela gritou.
Era fofo alguém ir a passar no corredor do hotel e assustar-se na ideia de que estariam a fazer um sexo muita estranho.
Ao menos estariam no anonimato de... ok, acabara de o ameaçar pelo nome todo misturado com dois foda-se pelo meio.

Fitou o problema que tinha nas mãos e fazia algum sentido, tinha a unha a cravar-se na carne, era natural que lhe estivesse a doer imenso... coisa de 10% do drama que estava a fazer estariam justificados...

Com o polegar da mão esquerda invadiu-lhe o intervalo do dedão do pé direito com o adjacente, aproximou e abriu a tesoura, afocinhou-a na unha e aguardou que se debatesse...

Nada.

Fincou o metal e não a sentiu espernear, nem um coice.

Será que lhe desmaiara? era tão awesome... assim, cortava-lhe a unha e podia aproveitar para uma rapidinha... ela nem precisava de acordar...
Ou mexer...

Virou para trás a cabeça e encontrou-a apoiada novamente nos cotovelos, olhos bem abertos a olhar para si. Cabelo solto a cair para trás destapando-lhe os ombros, o decote que se amarrava atrás do pescoço...

- Então? corta lá essa merda, tás à espera do quê? não tenho o dia todo...

Fechou parcialmente a tesoura sem desviar dos dela os seus olhos

- OLHA PARA O QUE ESTÁS A FAZER ESTÚPIDO!

Demorou à volta de cinco segundos, não teve uma única reclamação.
Levou a tesoura à mesa de cabeceira e com a mão esquerda debaixo da perna dela declarou-lhe a intenção de se levantar após o sucesso da contenda.
Re-sentou-o, puxou-o para baixo para a cama

- Mas onde é que tu vais? faltam os outros dedos...

- Tás a gozar não estás?

- Achas que vou para lá de sapatos abertos com uma unha cortada e as outras todas por cortar?

- E cortares tu?

- DOI-ME O PÉ E O JOELHO E Já estás ai... e tens jeitinho... sempre compensava a besta que foste... porra, eu em sofrimento, foste um monstro comigo, não percebo porquê... não me afastes a mão! estava-te só a fazer uma festa nas costas... ficas tão sexy de fato... vá lá, não sejas assim!!! é rápido... se fores rápido eu... pode ser que dê tempo para...

Mordeu o lábio, fitou-o de baixo para cima e deslizou o pé esquerdo sobre a perna dele.

- Vá lá! estás a ser mau... já estamos atrasados meia hora... faz logo o que te estou a pedir! que gaja!


Abriu-lhe a porta e deixou-a passar, estavam uma hora atrasados.
Ela sofria de violentas cocegas psicossomáticas nos pés.
Cada dedo foi primeiro uma luta, depois uma negociação para não desistir e atacar o dedo seguinte e depois uma luta novamente.
E uma negociação e uma luta e uma negociação dentro de uma luta e ainda estava confuso para perceber porquê que não fora mais do que a sua obrigação e era um momento romântico entre os dois que iam guardar e reter...

A anfitriã levantou-se para os ir receber, estranhando-lhes a falta de pontualidade perguntou-lhes o motivo do atraso

Ele abriu a boca para responder

Ela antecipou-se

- SEXO! desculpa, empolgamo-nos e... foi isso, que vergonha, nem acredito que te estou a contar... mas perdemos noção do tempo... já começaram a comer?



Nota - tenho a politica de nunca partilhar ou usar um evento - acontecimento meu com outra pessoa - a não ser que o objectivo seja enxovalhar-me obviamente- sem autorização da pessoa envolvida.
Principalmente quando é algo que recordo com gosto.

Eu no fundo só quero dizer que a sra em questão no texto deu menos luta física mas disse o triplo dos palavrões.

Um comentário:

Pusinko disse...

AHAAHHAHAHAHAA
Adorei!
´Muito bem relatado André!